Em “Refrão sobre nós”, um
grupo de amigas e um amigo se reúnem para seu encontro anual no mesmo bar de
sua cidade natal. A conversa acaba evoluindo para grandes confissões sobre suas
experiências sexuais. Assim, acompanhamos relatos sobre relações no trabalho,
com desconhecidos na rua ou em festas, jogos de dominação, ménage à trois,
troca de casais e muito mais.
O desejo feminino é protagonista
das diversas histórias. Num dos diálogos, o marido de Eliandra diz:
“Isso aqui – Roberto falou
enfiando o dedo na minha boceta sensível. – Tem dono. Você sabe de quem é isso?
– É seu. – Respondeu o
estranho.
– Não... É dela. – Ele me
virou para ele e me beijou na boca. – A decisão é dela, o corpo e o desejo são
dela.”
Nas pausas entre as confissões,
as amigas também falam sobre machismo, convenções, monogamia e relacionamento
aberto e feminicídio. Uma delas, Heloísa, está ausente e o motivo é mantido em
segredo até o fim do livro: sua história é bastante impactante, trágica e
infelizmente comum a muitas mulheres.
Como num bom livro
erótico, os relatos são excitantes, nos mostram diversas maneiras de sentir
prazer e como não temos ideia do que aquela amiga calada faz para se divertir
nas horas vagas ou que aquela outra certinha gosta de uma transgressão na cama.
Como dizia Nelson Rodrigues: “Se todos conhecessem a intimidade sexual uns dos
outros, ninguém cumprimentaria ninguém”. No entanto, em “Refrão sobre nós”, a
contação de histórias parece unir ainda mais as amigas, que passam a se
conhecer melhor, a acessar um lado desconhecido de si mesmas. Falar sobre sua
intimidade permite que elas deem livre expressão ao seu desejo – e por que
deveriam se envergonhar disso?
Mas o livro vai além e
nos faz refletir sobre temas sociais. Em determinado momento, Camila resume: “A
questão é que nós não somos livres: sejamos solteiras, sejamos casadas.
Solteiras, nossas ações são julgadas pela sociedade; casadas, pior ainda”. Em
outra ocasião, Caroline aponta: “Quantas de nós passamos por situações de
violência e nem percebemos? Violência contra mulher não é apenas a agressão
física, o tapa. Quantas nós transamos sem vontade, porque sentimos que temos
essa obrigação? Isso é um tipo de violência”.
Enfim, não é difícil se identificar
em alguma medida com os temas das conversas, quando se é mulher, ou tentar
entender as situações pelas quais as mulheres passam, quando se é homem. O
romance pode ser excitante para ambos os sexos e, o mais importante, nos faz
naturalizar e respeitar as múltiplas formas de exercer sua sexualidade.
“Refrão sobre nós” é um
romance de Talita Bueno, está em pré-venda pela editora Magnólia e também
disponível em formato de ebook pela Amazon.
Nenhum comentário:
Postar um comentário