segunda-feira, 16 de outubro de 2023

Professora (trecho de Dançando na Varanda)

 

É clássico de quem se torna professor: quando eu era pequena, brincava de dar aula pras bonecas. Tinha chamada e tudo! Quem não respondesse, levava falta. Que bom que nenhuma nunca respondeu... Depois, passei a dar aula pros meus parentes, no sítio do meu avô, de brincadeira. Era uma maneira de reforçar o que aprendia na escola e a gente acabava se divertindo. Eu era uma instrutora severa: já expulsei uma avó de sala e dava nota baixa pro meu pai. Bem diferente da real professora que me tornaria, cuja paciência os alunos vivem enaltecendo, quem diria.

Apesar de manifestar essa vocação desde a infância, nem sempre quis dar aula. Escolhi Letras porque é assim que vejo o mundo, com palavras. Mas, a princípio, pensava em escrever e trabalhar com revisão e tradução. Eu era tímida, atrapalhada, achava que não tinha jeito pra lidar com gente. Pela experiência de dar aulas pra minha família, talvez fosse melhor não continuar mesmo, a não ser que trabalhasse num quartel. Porém, não, nada disso, eu estava errada.

Me apaixonei pela sala de aula em 2012, quando obtive uma bolsa de iniciação à docência e comecei a trabalhar no LICOM (Línguas para a Comunidade) da UERJ, graças ao incentivo de uma amiga. Obrigada, Bia. Foi a primeira turma que assumi. Antes disso, havia atuado como monitora no curso de inglês, acompanhando os professores nas turmas, participando das conversações e tirando algumas dúvidas dos alunos. Era diferente porque eu era uma ajudante, e não a responsável pela turma. De repente, estava sozinha nessa função: preparar as aulas, explicar o conteúdo, elaborar as provas e corrigir, tudo era papel meu. Claro, havia a orientação de uma coordenadora, algumas reuniões com os outros bolsistas, onde podíamos trocar. Mesmo assim, foi um novo desafio.

(Dançando na Varanda - Nicole Ayres)

terça-feira, 19 de setembro de 2023

Perdão

Perdão

Pois não consigo

Te perdoar

Autoamor

 

Preciso dizer que me amo. Mesmo nos dias ruins. Mesmo de máscara de argila na cara, de pijama largada na cama, o cabelo bagunçado, a unha por fazer. Me amo preguiçosa, manhosa, birrenta, insuportável. Me amo em todas as circunstâncias. Nunca vou desistir de mim. Me amo e me aceito como sou. Tenho orgulho de quem me tornei, das minhas metamorfoses diárias. Sei que posso me aperfeiçoar, mas dentro dos meus limites e no meu próprio ritmo, naturalmente. Aceito os meus silêncios, os meus gritos surdos, as minhas manias. Guardo os meus segredos. Recebo as críticas construtivas, descarto as destrutivas. Eu me amo infinita, verdadeira e eternamente. E quem não me ama de volta não tem espaço no meu coração.

quarta-feira, 13 de setembro de 2023

Sobre mulheres sem filhos

 

Sou uma mulher que não quer ter filhos e levanto muito essa bandeira. Agora estou lendo Você tem filhos? Como as mulheres vivem quando a resposta é não, da Kate Kaufmann, um achado da Bienal. Ela fala sobre mulheres que não quiseram ou não puderam ter filhos, seja pelas razões que forem, sua relação com companheiros, amigas mães, e as crianças presentes em suas vidas.

Lembro de uma festinha de aniversário do salão que eu frequento, onde tive a oportunidade de conversar com outras mulheres, inclusive mais velhas, que não tinham filhos e estavam muito bem, obrigada. É raro encontrar um grupo assim, porém cada vez menos raro.

“Mas por que você não quer ter filhos?”, viria algum mala perguntar. O problema dessa pergunta é que ela nunca é feita a uma mulher que quer ser mãe. “Mas você tem certeza de que quer colocar uma criança nesse mundo violento e perigoso?” ou “Não acha que está projetando os seus desejos nessa criança, não seria egoísmo da sua parte?” são perguntas absurdas. Igualmente absurdo é questionar as razões de uma mulher que não deseja ser mãe. Ela é sempre julgada como egoísta, encalhada, e por aí vai.

Se você tem filhos e está feliz com isso, ótimo. Mas se você não tem e está da mesma forma feliz, ótimo também. O mundo já está superpopuloso e não precisa de mim para procriar. Já chegaram ao ponto de me dizer que, por ser filha única, não vou perpetuar o nome da minha família. Tantos problemas no mundo e vou me preocupar logo com isso, que não faz diferença nenhuma pra ninguém.

Mulheres sem filhos não são egoístas, não odeiam crianças e não estão agindo contra a natureza. A única coisa que queremos é respeito em nossa decisão. Respeito é sempre fundamental, e você nem precisa entender as razões do outro para isso.

sexta-feira, 7 de julho de 2023

Espuma

 

Que tal nós dois

Numa banheira de espuma?

Seu corpo nu

Estonteante

Meu corpo nu

Nada mal também

Esquecemos o trabalho

Família, problemas, grana

E curtimos apenas o momento

Exploramos as partes um do outro

Eu molhada

Você duro

Meus seios em sua boca

Sua pele sob minhas mãos

Não tem hora pra acabar

Farra gostosa

E necessária

Então, o que me diz?

terça-feira, 13 de junho de 2023

Eu-infinito

 

Tentei

Fugir

De mim

E fui parar

No passado

Onde eu

Não existia

Nem sonhava

Em ser

Assim

 

Não gostei

Dessa versão

E fui parar

No futuro

Onde eu

Existirei

Mas não sei

Quem

Me tornarei

 

Voltei

Ao presente

É só o que

Tenho

E fico contente

Ao ver meu

Empenho

Em melhorar

Meus rascunhos

Pra fazer arte

Com cada parte

As várias versões

De mim

 

Não fujo mais

Co-habito

O infinito

De um só ser

O infinito

De ser só

terça-feira, 25 de abril de 2023

Autoamor

 

Preciso dizer que me amo. Mesmo nos dias ruins. Mesmo de máscara de argila na cara, de pijama largada na cama, o cabelo bagunçado, a unha por fazer. Me amo preguiçosa, manhosa, birrenta, insuportável. Me amo em todas as circunstâncias. Nunca vou desistir de mim. Me amo e me aceito como sou. Tenho orgulho de quem me tornei, das minhas metamorfoses diárias. Sei que posso me aperfeiçoar, mas dentro dos meus limites e no meu próprio ritmo, naturalmente. Aceito os meus silêncios, os meus gritos surdos, as minhas manias. Guardo os meus segredos. Recebo as críticas construtivas, descarto as destrutivas. Eu me amo infinita, verdadeira e eternamente. E quem não me ama de volta não tem espaço no meu coração.