sexta-feira, 5 de abril de 2024

Vida adulta

 

Não tenho escrito. Nem poemas nem contos nem fragmentos de sonhos ou resenhas. Estava conversando com uma amiga sobre isso. Ela também é escritora. E não tem escrito. Ficamos nos perguntando o que pode estar acontecendo. Quando éramos mais jovens, as ideias pareciam jorrar como enchentes, havia um transbordamento de si. Hoje em dia, temos que nos esforçar para criar alguma coisa, quando conseguimos arranjar algum tempo. Parece que fomos sugadas pela rotina. Vida adulta. É isso aí, senhoras e senhores.

Em paralelo, essa semana, na terapia, estávamos analisando sobre como as atividades que deveriam me nutrir em autocuidado também se tornaram parte da rotina. Mais um item pra checar na lista de tarefas. Meus únicos momentos de fuga são os livros, os filmes e saídas com amigos e familiares. Novamente, a vida adulta bate à porta.

É difícil estar inspirada com contas pra pagar, prazos pra cumprir, aulas pra preparar, textos acadêmicos pra ler. E olha que eu me cuido, mas estou realmente atenta a como me sinto, em vez de ao que faço? Me sinto cansada a maior parte do tempo. Pulo de uma atividade pra outra, mal consigo processar o que vivo. É hora de parar e avaliar.

Não existe, é claro, solução mágica. O que vou tentar é fazer mais pausas, observar o que funciona ou não, o quanto consigo me dedicar ao meu lazer e depois me tornar mais produtiva. Eu gosto da minha vida, da minha rotina, só que há momentos em que precisamos parar e recalcular a rota. Ou vamos repetir os mesmos padrões sem aprender nada. Não quero viver no piloto automático. Vida adulta, sim, com todos os prós e contras, mas alimentando a criança interior de sonhos.