domingo, 20 de fevereiro de 2022

Lombo de Natal - A morte serve a ceia



– Mas onde está o Pablo, Cris?

Silêncio. Aquela pergunta ficou pairando no ar, como uma névoa densa e espessa que paralisava tudo. Cristina olhou para a convidada, séria, e disse gravemente:

– A gente se separou.

Choveram comentários lamuriosos:

– Que pena! Vocês formavam um casal tão bonito!

– O Natal não é a mesma coisa sem o Pablo, ele sempre animava o ambiente.

– Por que você não contou antes?

– Mas o que foi que aconteceu? Vocês pareciam tão bem!

A anfitriã se sentou na poltrona, cruzou as pernas, pegou seu vinho, deu um gole e só depois, sem nenhuma pressa, respondeu:

– Vocês sabem como é... Vida de casado é complicado. Nosso casamento acabou ficando desgastado e resolvemos nos separar amigavelmente.

– E pra onde ele foi?

– Resolveu viajar pra espairecer. A essa hora, deve estar curtindo o inverno europeu.

As festas de Natal de Cris e Pablo eram muito famosas na região. A casa estava sempre enfeitada com cores luminosas, Papai Noel gigante, renas, duendes, presentes e guirlandas. Ser convidado para a ceia farta no casarão dos Tedesco era uma honra! Cristina cozinhava divinamente. Nesse dia, dispensava os empregados e cuidava de tudo. E todos os detalhes eram planejados, da toalha de mesa aos guardanapos, não havia um item que não fosse temático. Fora a limpeza impecável da casa.

Os convidados também eram escolhidos a dedo. Artistas de todos os tipos iam declamar seus poemas ou tocar seus instrumentos para animar a festa. O clima era sempre muito agradável, os anfitriões atenciosos, gentis e bem-humorados. Por tudo isso, essa era considerada a melhor ceia de Natal da cidade. Porém, para a surpresa de todos, naquele ano Pablo não estava presente. . A notícia da separação daquele casal, considerado um exemplo de união e harmonia, que já havia celebrado suas Bodas de Pérola com muita pompa, atingiu os convidados como um meteoro. Depois da fala de Cristina, todos ficaram em silêncio, absorvendo a novidade e lamentando a ausência de Pablo. O que será que havia de fato acontecido? Teria sido apenas um desgaste, como a anfitriã afirmava? Ou haveria algum segredo sórdido por trás do divórcio? Apesar de admirar o casal, todos estavam loucos por essa fofoca! É da natureza humana, afinal. Mas eles jamais poderiam supor a verdade. Nem a imaginação mais fértil teria alcançado a real dimensão da situação.

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