segunda-feira, 31 de maio de 2021

Sobre confiança

 

Recentemente, vi o filme indicado ao Oscar “Meu Pai”, com Anthony Hopkins. A obra nos transporta à confusão mental vivenciada por um idoso com Alzheimer. Ele mistura rostos e nomes, lugares e fatos, sem conseguir se situar no tempo e no espaço. É um processo bastante sofrido para o doente e seu entorno. Fiz uma associação com o livro “A Profecia Celestina”, presente de um amigo querido, que terminei há pouco tempo também. No início do livro, que propõe uma espécie de despertar espiritual, o protagonista observa as estranhas coincidências que ocorrem em sua vida e explica como tudo parece conduzi-lo a seu destino. Assim, pessoas e situações vão lhe guiando para as próximas etapas de seu aprendizado.

 

Se pararmos pra pensar, a vida é isso mesmo: uma série de acontecimentos que vão se conectando e pessoas que vamos encontrando para diversos tipos de trocas de experiência. O que acontece quando a gente adoece? Todos os dias parecem meio iguais porque fugimos da nossa rotina. Tendemos a nos sentir inúteis, parasitas sociais. O mundo fica esquisito, um lugar inseguro porque não estamos bem e não conseguimos mais estabelecer conexões com lugares, coisas e pessoas como antes. É isso o que acontece com Anthony no filme. Então, ele mergulha em sua própria mente e se perde em sua confusão interior. Se pudesse ainda confiar na palavra da filha e das enfermeiras que cuidam dele, será que seu quadro não melhoraria e ele conseguiria obter certa qualidade de vida nos anos que lhe restam?

 

Não quero aqui ser cruel e culpabilizar a pessoa doente. Trata-se de um processo inconsciente e muito, muito sofrido. Essas pessoas devem ser acolhidas e bem tratadas. Porém, o meu ponto é: não seríamos pessoas muito melhores, uma sociedade muito melhor se simplesmente confiássemos mais um nos outros, se nos entregássemos ao fluir natural da vida, aceitando as mudanças e novas perspectivas que se abrem aos nossos horizontes? O mesmo amigo que me deu o livro disse, em certa ocasião, uma frase interessante: “O Universo nos providencia as ferramentas que precisamos pra nossa evolução”. E é verdade, se a gente passar a reparar. Mas você confia em mim, cara(o) leitor(a)? Espero que sim. Porque precisamos disso. Ainda mais nesse momento histórico que vivemos. Precisamos confiar que vai passar, mas por enquanto ainda temos que nos proteger, cuidar da gente e dos nossos. Confie. Vai passar sim. Assim que cada um fizer a sua parte.

sexta-feira, 28 de maio de 2021

Resenha: Depois a louca sou eu



Neste livro, a colunista da Folha Tati Bernardi, nos expõe, em formato de crônicas, o quanto sofre sua vida inteira com crises de ansiedade. Ela utiliza o humor como válvula de escape e aborda um tema muito importante para a nossa época: a saúde mental. Tati fala sobre o histórico familiar e a dificuldade em manter amizades, compromissos no trabalho e etc. por conta de sua intensidade e insegurança. Ela também aborda o vício em remédios e a tendência de se envolver em relacionamentos tóxicos. Após tentar vários tratamentos, a autora finalmente começa a se aceitar como é e que terá que conviver com as crises ao longo da vida, buscando na escrita uma maneira de desabafo e até de terapia.

Seguem alguns trechinhos do livro:

“Coisa demais para pensar, coisa demais para lidar. Seis intermináveis anos em Marte, em carne viva, correndo o risco de travarem meu carro, travarem a estrada, travarem minha saída com frases como ‘fica aí, doida’. Como se faz para ir a qualquer lugar sem achar isso gigantescamente insuportável? Sem ficar cansada antes mesmo de ir?”

“Eu teria para sempre, depois daquele dia, medo do demais. Qualquer coisa demais me daria enjoo. Eu perseguiria uma vida de “hoje tá tudo mais ou menos e eu vou deitar pra ver TV e acabar dormindo.”

“A verdade é que não lembro de existir sem estar passando meio mal, com a pressão meio baixa, hipoglicemia, o coração meio disparado, tudo meio rodando, a estabilidade do ar sempre demorando a voltar qualquer que fosse o movimento. E muito enjoo.”

“Se já é complicado ser mulher, ser uma mulher medicada é complicadíssimo.” “Se a gente pudesse, mesmo que de vez em quando, mesmo que por pessoas que discutem dinheiro com a gente, mesmo que de mentirinha, ‘ser gostada’ como filha, pobres das milionárias indústrias farmacêuticas.”

Curiosidade: Tem um filme com a Débora Falabella de mesmo título ;)

sexta-feira, 21 de maio de 2021

Sobre esperança

 

“O que você faria se tivesse apenas mais um dia de vida?”. Essa pergunta clássica vive aparecendo nos métodos de idiomas pra aprender a formular hipóteses. O tempo pode variar: um dia, uma semana, um mês... Ela é mote de músicas também. Paulinho Moska canta em “O Último Dia”: “Meu amor, o que você faria se só te restasse este dia?”. E de filme: em “Babenco – Alguém tem que ouvir o coração e dizer Parou”, o diretor recebe a sentença médica de um mês de vida; por isso resolve realizar sua última produção.

 

Pra trabalhar o tema com os meus alunos de francês, uso a música “Mourir demain” (Morrer amanhã, de Pascal Obispo e Natasha St Pier). É uma espécie de equivalente da canção do Moska. Ela diz que alguns pegariam um avião, outros se trancariam em casa, outros iriam querer ver o mar pela última vez, fazer amor, fazer uma festa, rezar ou antecipar o fim... E você? “Se o mundo fosse acabar, me diz o que você faria”...

 

Eu sempre digo que teria esperança até o fim. Provavelmente ficaria com meus próximos, comeria bem e bastante e, se possível, faria uma última viagem. Bem sagitariana. Mas desconfiaria do fim. Quem disse que vai acabar? Médicos erram em diagnósticos, cientistas erram em previsões... Quantas vezes não morri, metaforicamente, e voltei? Porém, é uma boa pergunta pra gente reavaliar o que é prioridade. Nos seus últimos momentos, como, onde e com quem você gostaria de estar, se pudesse escolher? Será que estamos sabendo apreciar a vida? Há quem diga viver sempre como se fosse o último dia. Outros como se fosse o primeiro. Vivamos, enfim, como se fosse o único. Porque é. Este é o único instante que você sabe que tem. Depois, tudo muda, acaba, se transforma e não sabemos mais. Ainda mais na pandemia. A morte está perto demais pra ignorar. Mas, enquanto há vida, há esperança. Vamos viver, por nós e pela lembrança de quem amamos. Normalmente não sabemos quanto tempo nos resta, mas sabemos que esse tempo é limitado. Aproveite o presente.

quarta-feira, 19 de maio de 2021

Resenha: Ousadas vol. 2

 

No livro “Ousadas: mulheres que só fazem o que querem”, volume 2, a francesa Pénélope Bagieu dá continuidade a seu projeto de apresentar histórias de mulheres fortes e destemidas, que desafiaram sua época para conquistar o que queriam. Conhecemos, em um divertido formato de HQ, artistas, ativistas, inventoras, contraventoras e etc., figuras marcantes, resgatadas por seu papel histórico-social.

Alguns exemplos que me marcaram:

- Sonita Alizadeh é uma rapper afegã contemporânea, ainda viva, que denuncia em suas músicas a condição da mulher em seu país, em especial os casamentos forçados de crianças em troca de dote. Ela quase foi vítima de uma dessas negociações e foi rejeitada por sua família após fazer sucesso como rapper, mas conseguiu ser acolhida nos Estados Unidos.

- A famosa cantora Betty Davis enfrentou muita resistência em sua época com suas letras maliciosas e danças sensuais. Imaginem uma negra expondo assim sua sexualidade nos anos 1970? Mas ela conhece seu valor e faz impor sua vontade, deixando um legado importante de renovação para o mundo musical.

- Frances Glessner Lee, dona de casa entediada, acaba encontrando uma ocupação ao fazer miniaturas. Ao conversar com amigos médicos do irmão, descobre a dificuldade em exercer a medicina legal por falta de preparação policial. Então, ela tem a ideia de fazer maquetes com réplicas perfeitas de cenas de crimes hediondos para formar os profissionais que trabalham com isso. Ela é nomeada capitã da polícia de New Hampshire (a primeira mulher a obter o título). Até hoje, suas maquetes são utilizadas como ferramentas de trabalho por criminólogos.

 

Pra quem ainda não viu, comentei há pouco sobre o volume 1, que é tão interessante quanto!

segunda-feira, 17 de maio de 2021

Resenha: Ousadas, vol. 1

 

No livro “Ousadas: mulheres que só fazem o que querem”, volume 1, a francesa Pénélope Bagieu nos apresenta, em formato de HQ, histórias de mulheres fortes, que ousaram enfrentar a sociedade para trilhar seu próprio caminho. A maior parte das personalidades citadas foram apagadas da História, apesar de seus grandes feitos. A autora utiliza o bom humor para narrar as trajetórias das mulheres, que podem muito bem nos inspirar.

Alguns exemplos que me marcaram:

 

- Nzinga foi rainha do Ndong e da Matamba. Negociou e lutou contra os colonizadores, enfrentou os homens da família para chegar ao poder (nada que um veneninho não resolva), se autoproclamou “homem” e decretou que não haveria rei, teve vários concubinos (aí eu vi vantagem) e participou ativamente dos campos de batalha até quase o fim da vida.

- A dançarina Joséphine Baker, que fez sucesso na França dos anos 1920 em diante, além de participar da revolução dos costumes e artística, também foi uma espiã da resistência durante a Segunda Guerra Mundial e se engajou em causas sociais, como a luta pelos direitos civis e discriminações raciais.

- A transexual Christine Jorgensen se tornou uma celebridade em meados do século XX e contribuiu muito para as lutas LGBTQ+. Atuou principalmente como cantora e exigiu respeito da mídia em suas entrevistas, deixando preconceituosos sem resposta. Ela ficou feliz ao observar a evolução das mentalidades ao longo de sua vida.

 

Em breve, comentarei sobre as histórias do volume 2, que são igualmente interessantes!

terça-feira, 11 de maio de 2021

A Mulher de Touro

 

A taurina é um ser resistente. Luta com unhas e dentes pelos seus ideais e pelas pessoas que lhe são queridas. Costuma pensar a longo prazo e não se importa em esperar pelo que vale a pena. É doce e agradável com quem ama, mas também sabe ser feroz. Gosta de estabilidade, tem o dom de manter o que conquista.

Não diga a uma taurina pra deixar de ser teimosa e turrona com ideias contrárias às suas nem insinue que ela é possessiva e apegada demais. Ensine com calma a importância de deixar ir e abrir espaço para as novidades. Aos poucos, é possível vencer sua resistência, mas sempre com carinho e paciência.

Pertencente a um signo ligado aos cinco sentidos, ela sabe apreciar cada sensação que a vida lhe proporciona. Valoriza boas comidas para o corpo e para o espírito, relações sólidas e conforto material. É preciso muita sensibilidade para amar uma taurina.

domingo, 9 de maio de 2021

Sobre o lado B da maternidade

 

Hoje é Dia das Mães e nossos feeds estão repletos de fotos e homenagens às mães e figuras maternas importantes nas vidas de nossos amigos. Eu mesma postei, no perfil pessoal, uma foto em família para simbolizar a data. Adoro mamãe: nós nos damos super bem e devo muito a ela, que me criou com amor, respeito e diálogo. Mas essa é a parte bonitinha da qual nos orgulhamos de falar. E vocês já devem saber que eu sou “fogo no parquinho”. Então, não poderia deixar de lembrar o lado B da maternidade.

Um dos meus livros preferidos, senão o preferido, é “Precisamos Falar sobre o Kevin”, da autora americana Lionel Shriver. Há também uma ótima adaptação cinematográfica com a camaleônica Tilda Swinton no papel principal. Nessa história, Eva, que a princípio não deseja ser mãe, vive seu inferno pessoal após dar à luz Kevin, um garoto problemático desde a infância. A relação que se estabelece entre mãe e filho é de tensão: ele recusa seu peito para mamar, chora sem parar quando bebê, destrói seu escritório quando criança, passa vírus para seu computador de trabalho quando adolescente, até que, no grand finale, provoca uma chacina em sua escola, matando colegas e funcionários. Isso mesmo: Kevin é um garoto Columbine. E Eva é forçada a olhar para trás, tentando buscar pistas no passado de que havia algo muito errado na personalidade do filho. Ela se pergunta qual o seu grau de culpa nas atitudes dele. Seria possível ter evitado a tragédia?

Em “O Acerto de Contas de uma Mãe”, Sue Klebold, a mãe real de um garoto Columbine, se faz a mesma pergunta. Ela considera que o filho teve uma criação completamente normal e amorosa, tenta nos mostrar isso e compartilha sua dor ao perdê-lo em circunstâncias tão trágicas. Não se sabe o que é mais assustador: a ficção ou a realidade. Se “ser mãe é padecer no paraíso”, imagina o custo pra essas mães.

Cabe aqui lembrarmos que a maternidade é linda, mas nem um pouco glamourosa. Envolve uma enorme dose de responsabilidade. Especialmente em uma sociedade patriarcal que culpa a mulher por qualquer erro. É engraçado quando rimos dos clichês com personagens como Dona Hermínia (que Deus o tenha, nosso querido Paulo Gustavo). É trágico quando tentamos empatizar com mães de assassinos e suicidas. Mas, certamente, não é brincadeira.

Só pra citar um último exemplo literário: em “A Filha Perdida”, a italiana Elena Ferrante retrata um caso de abandono. Porém, aonde quer que vá, a mãe-protagonista se sente perseguida por suas crias, não consegue cortar o vínculo dentro de si, por maior que seja sua fadiga mental. Podemos julgar essa mulher? Pelo menos não devemos, porque não sabemos o custo emocional que esse gesto teve para ela.

Conclusão: valorizem suas mães, mas não exijam demais delas, pois são seres humanos falhos e frágeis às vezes. E, para as mães de plantão que possam estar me lendo, sejam mães possíveis e não se cobrem tanto. Vocês também precisam ser cuidadas.

O meu é maior

 Inveja do pênis

É uma ova

Dr. Freud

Como diz Maria Rita

Sou mais macho 

Que muito homem

E se é questão

De tamanho

Difícil é achar um cara

Com um pau

Maior do que o meu

segunda-feira, 3 de maio de 2021

Seguro

 

Boa tarde

Gostaria de um seguro

Contra coração partido

Posso pagar no cartão?

 

Desculpe, senhora

Esse não podemos oferecer

Está em falta

 

Algum produto semelhante disponível?

 

O mais próximo que temos

É o amor próprio

Mas precisa ser renovado

A cada desilusão

 

Quanto trabalho!

Não há algo mais prático?

 

Não se brinca com qualidade

Um serviço mais barato

Pode acabar custando caro depois

 

Mas é muito perigoso

Andar com o coração exposto

Preciso de uma garantia

 

Nesse caso

Minha senhora

Eu recomendo

A velha e boa terapia