Em “Preliminares: nudez
no verso”, Daniela Laubé explora o erotismo de maneira delicada, inteligente e
metalinguística. Ela brinca com as palavras, numa espécie de jogo sensual,
bastante interessante e sofisticado. No posfácio, ainda nos explica a proposta
do livro e nos revela suas inspirações, que vão dos “Cânticos dos cânticos” à
poeta Olga Savary, considerada a primeira autora de um livro inteiramente
dedicado à temática erótica no Brasil.
Os versos de Daniela vão
ficando mais ousados e o sentido mais próximo da prática sexual conforme as
páginas avançam. Porém, em nenhum momento perdem a classe, a magia ou a beleza.
Há uma série de aldravias, poemas curtos de seis versos, com uma palavra por verso,
no meio do livro. Na minha opinião, o poema mais genial é aquele composto
apenas por símbolos, já que as palavras são limitadas para descreverem o
desejo. O poema é assim:
( )
!
( ! )
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...
Perfeitamente
compreensível, não é preciso dizer mais. O que não significa que a autora não utilize
habilmente a linguagem para dar conta de sua proposta erótico-metalinguística,
com vários duplos sentidos. Podemos perceber isso em poemas como “Palma da Língua”:
“Deixa-me descobrir tua
pele
Com a palma da língua
Removendo dela
Todo segredo
E saborear meu desejo
Até que esteja à míngua
De tanto conhecê-lo
Experimento dos relevos
À erosão da alma
Afogo o som das palavras
No paladar do frêmito
Gemidos assonantes
Lambem o curso do tempo
Compelidos à caçada”
Em resumo, “Preliminares”
é um convite ao livre desejo, misturando a paixão pela arte ao fervor dos
amantes insaciáveis, cuja linguagem nos faz brincar com as palavras assim como os corpos fazem instintivamente.