quarta-feira, 28 de setembro de 2022

Dançando na Varanda (trecho)

 

A você que já teve ou está tendo uma forte crise emocional: senta, me dá a mão, olha nos meus olhos e ouve - vai passar. Eu sei que parece que não vai. Sei que você só quer que a dor pare, vá embora e te deixe em paz, porque é insuportável e você não merece isso. Não, você não merece. Você não fez nada de errado. Tá tudo bem. Você é apenas humano. Só você sabe o que sente. E é legítimo sentir. Mas vai passar. Não lute contra a dor, entregue-se a ela. Não tente represar a emoção, estancar a ferida: transborde, sangre, se desmanche em poesia, dança, canto, abraços, choros e risos. Vai passar e você vai se fortalecer. Acredite. Você não está sozinha. Conte com quem puder. Confie. Veja o melhor nas pessoas. Veja o melhor em você. Você é forte! Você é foda! Mesmo quando está frágil. Principalmente quando está frágil. Afinal, você é apenas humano. E isso não é pouca coisa!


(Dançando na Varanda - Nicole Ayres)

quarta-feira, 21 de setembro de 2022

Vida Acadêmica - Dançando na Varanda (trecho)

 

O que eu fui estudar? O sadismo. É bom quando a gente escolhe um tema leve, né? Meu orientador, o professor Júlio França, pesquisava sobre a monstruosidade e o que denominava “medo estético” ou “artístico”. Seguindo essa linha, peguei um livro bem tranquilinho chamado “Os 120 dias de Sodoma”, do Marquês de Sade. Tem uma adaptação pro cinema do Pasolini: só procure se você tiver estômago forte. O meu orientador perguntou, na entrevista, se eu tinha conseguido ler o livro todo. Ele, que estudava o gótico, o monstro, umas coisas bem macabrinhas, perguntou se eu tinha lido até o final. A resposta foi sim, é claro.

O engraçado é que sempre fui mais reservada na vida pessoal, até tímida mesmo. E foi na vida acadêmica que venci certas barreiras. Chegava nos eventos pra apresentar com meu vestidinho estampado, bijus coloridas e feições meigas, abria um sorriso e começava a falar sobre o sadismo, a monstruosidade, a pornografia, etc. Sou a quebra de expectativa em pessoa. Não gostava de falar palavrão, e tinha que comentar sobre o universo sadiano, repleto de “fodedores”, “paus”, “bocetas” e “cus” (ampliei bastante o vocabulário em francês, lendo no original). Um dos professores que estavam na minha banca de defesa da dissertação disse que é comum que os pesquisadores adotem um pouco do estilo do autor analisado. E isso é engraçado quando se trata do Marquês de Sade. Porque nada na minha vida pode ser muito comum... Ou pouco desafiador. Pelo menos de tédio eu não morro.


(Dançando na Varanda - Nicole Ayres)

segunda-feira, 12 de setembro de 2022

Autorretrato

 

Mulher

Balzaquiana

Sagitariana

Não quer ser mãe

Mas adora ser filha

(Da mãe)

 

Professora

Pesquisadora

Escritora

Yogini

Dançarina

Oraculista

 

Amante

Das artes

Dos encontros

Dos eventos

Da vida

 

Agenda sempre cheia

Cabeça a mil por hora

Coração acelerado

Com momentos de calmaria

 

Descobriu a importância

Das pausas

Do foco

Do olhar para si

 

Ama sem depender

Age após hesitar

Conhece sem saber

Descansa após trabalhar

 

Introvertida

Intrometida

Estuda Sade

E se veste como a Barbie

 

Gosta de viajar

Com conforto

Trabalhar e estudar

Com prazer

Rir do próprio desgosto

Apreciar a beleza do ser


(Poema escrito para o tema "Autorretrato" do Ecos Poéticos)

domingo, 11 de setembro de 2022

Sobre expectativas

 

“Tu te tornas eternamente trouxa pelas expectativas que crias” (Antoine de Saint-Exupéry – juro que foi, eu vi no Google). Não vou criar expectativas, não vou criar expectativas, não vou criar expectativas... Já está criando. Aliás, essa é a pior de todas: a expectativa de achar que vai conseguir não criar mais expectativas. Quer saber? Relaxa. Criar expectativas é natural para nós. Natural e mesmo saudável, até certo ponto. Porque se empolgar com um novo projeto, uma nova pessoa, uma nova oportunidade é muito gostoso. O problema é quando nossas expectativas são altas demais e/ou realistas de menos, o que nos leva a constantes frustrações.

Então, como criar expectativas possíveis e estimulantes? Não existe exatamente uma fórmula, funciona mais por tentativa e erro mesmo. Afinal, só conhecemos os nossos limites após ultrapassá-los. E todo mundo tem alguma história de fracasso e desilusão pra contar. De como achamos que aquela pessoa era o amor das nossas vidas e ela acabou se revelando uma bela filha da puta. De como acreditamos que conseguiríamos o emprego dos sonhos, mas as circunstâncias não nos permitiram. Ou até conseguimos, porém o sonho se tornou um pesadelo no dia a dia. Insira aqui qualquer outro exemplo, em qualquer setor da vida que seja.

A questão é: o que aprendemos com esses erros e frustrações? Porque podemos chorar em posição fetal e culpar o mundo mau, nos colocando como eternas vítimas do destino, ou podemos tentar reavaliar o caminho, pensando em fazer diferente na próxima vez. Isso envolve nos responsabilizar pelas nossas atitudes. E pelas nossas expectativas. Será que não meti os pés pelas mãos? Será que não agi impulsivamente, sem medir as consequências? Será que não apostei demais em alguém que dava sinais claros de desinteresse? Acontece. Calma, respira, põe a cabeça no lugar e se reconstrua. O bom das expectativas é que elas se moldam ao nosso momento, se conectam à nossa energia. Expectativas são flexíveis e mutáveis, assim como nós deveríamos aprender a ser. Aproveite.

domingo, 4 de setembro de 2022

Resenha: Amarração de amor

 

“Amarração de amor: pagamentos após resultados”, de Bruno Couto, é, obviamente, um livro sobre amor. Em especial, sobre as dores do amor, o rompimento, o abandono, a rejeição. Aquele amor que gostaríamos de preservar, de “amarrar” por magia para que não escapasse. Afinal, como nos diz o próprio autor no prefácio, estar apaixonado é humilhante.

Ao longo de vários poemas curtos, frases, conversa de Whatsapp, reflexões e desabafos, Bruno nos guia pelas etapas do enamoramento, do encanto à exclusão. Tudo começa com um áudio da Marisa Monte enviado pelo ser amado que faz tão bem ao eu-lírico. Depois, há uma série de dúvidas, questionamentos, perguntas sem resposta. Passa-se pelo êxtase, pelo jogo erótico, pelo sofrimento, pela solidão, pela recordação, pela vontade de esquecer.

Bruno também nos fala sobre ser homossexual e ter sua sexualidade reprimida pela culpa que a sociedade preconceituosa o faz sentir, até o momento de sua aceitação e livre expressão. Esse tema já aparece no primeiro poema: “A jornada do herói”, em que o eu-lírico conta como se descobriu gay, ou “bicha”, como o próprio autor coloca. O tema é retomado em “Viado de máscara” e “A bicha que mora em mim”, em que rediscute clichês sobre o que seria considerado “coisa de viado”.

Quanto à linguagem, é possível apreciar um lirismo do cotidiano, simples e profundo. O autor utiliza elementos da cultura popular, como “um dia de princesa, com Netinho de Paula”, Claudia Leite e Lady Gaga, diálogo de Whatsapp, rituais de candomblé, paisagens cariocas, enfim, recortes da realidade rotineira que nos fazem nos identificar ainda mais com o eu-lírico.

Por fim, deixo aqui duas frases do livro para nos fazer refletir: “O oposto do rancor é saudade” e “deus é a dor que a gente acostuma”.


Referência

COUTO, Bruno. Amarração de amor: pagamentos após resultados. Cotia:Urutau, 2022.