Hoje é Dia das Mães e
nossos feeds estão repletos de fotos e homenagens às mães e figuras maternas
importantes nas vidas de nossos amigos. Eu mesma postei, no perfil pessoal, uma
foto em família para simbolizar a data. Adoro mamãe: nós nos damos super bem e
devo muito a ela, que me criou com amor, respeito e diálogo. Mas essa é a parte
bonitinha da qual nos orgulhamos de falar. E vocês já devem saber que eu sou “fogo
no parquinho”. Então, não poderia deixar de lembrar o lado B da maternidade.
Um dos meus livros preferidos, senão o preferido, é “Precisamos
Falar sobre o Kevin”, da autora americana Lionel Shriver. Há também uma ótima
adaptação cinematográfica com a camaleônica Tilda Swinton no papel principal.
Nessa história, Eva, que a princípio não deseja ser mãe, vive seu inferno
pessoal após dar à luz Kevin, um garoto problemático desde a infância. A
relação que se estabelece entre mãe e filho é de tensão: ele recusa seu peito
para mamar, chora sem parar quando bebê, destrói seu escritório quando criança,
passa vírus para seu computador de trabalho quando adolescente, até que, no grand
finale, provoca uma chacina em sua escola, matando colegas e funcionários.
Isso mesmo: Kevin é um garoto Columbine. E Eva é forçada a olhar para trás,
tentando buscar pistas no passado de que havia algo muito errado na personalidade
do filho. Ela se pergunta qual o seu grau de culpa nas atitudes dele. Seria
possível ter evitado a tragédia?
Em “O Acerto de Contas de uma Mãe”, Sue Klebold, a mãe real
de um garoto Columbine, se faz a mesma pergunta. Ela considera que o filho teve
uma criação completamente normal e amorosa, tenta nos mostrar isso e compartilha
sua dor ao perdê-lo em circunstâncias tão trágicas. Não se sabe o que é mais
assustador: a ficção ou a realidade. Se “ser mãe é padecer no paraíso”, imagina
o custo pra essas mães.
Cabe aqui lembrarmos que a maternidade é linda, mas nem
um pouco glamourosa. Envolve uma enorme dose de responsabilidade. Especialmente
em uma sociedade patriarcal que culpa a mulher por qualquer erro. É engraçado
quando rimos dos clichês com personagens como Dona Hermínia (que Deus o tenha,
nosso querido Paulo Gustavo). É trágico quando tentamos empatizar com mães de assassinos
e suicidas. Mas, certamente, não é brincadeira.
Só pra citar um último exemplo literário: em “A Filha
Perdida”, a italiana Elena Ferrante retrata um caso de abandono. Porém, aonde
quer que vá, a mãe-protagonista se sente perseguida por suas crias, não
consegue cortar o vínculo dentro de si, por maior que seja sua fadiga mental. Podemos
julgar essa mulher? Pelo menos não devemos, porque não sabemos o custo
emocional que esse gesto teve para ela.
Conclusão:
valorizem suas mães, mas não exijam demais delas, pois são seres humanos falhos
e frágeis às vezes. E, para as mães de plantão que possam estar me lendo, sejam
mães possíveis e não se cobrem tanto. Vocês também precisam ser cuidadas.