terça-feira, 28 de dezembro de 2021

Resenha - Hospital de Brinquedos


A antologia do horror Hospital de Brinquedos foi um presente da querida Kátia Surreal, que possui um conto no livro. Tive a ótima ideia de começar a ler antes de dormir, enquanto estava sozinha em casa, e fiquei com medo de cada barulhinho noturno – o que mostra que o livro é bom hehe

A história parte da seguinte premissa: um menino tem o dom de dar vida aos brinquedos, e com isso diverte muitas crianças. Porém, quando cresce e passa por eventos traumáticos, como a guerra e a perda dos pais, começa a usar sua habilidade para o mal e amaldiçoa os brinquedos que lhe levam para consertar. Após uma introdução sobre essa história do Sr. Bergman, cada conto, escrito por um autor diferente, focalizará um lar e um brinquedo assombrado.

Podemos encontrar nesse universo: brinquedos vingativos e assassinos, espíritos malignos e jogos amaldiçoados em meio a famílias abusivas e crianças traumatizadas. Assim, a antologia promete momentos tensos e horrores inimagináveis. Porém, mais assustador que qualquer brinquedo aterrorizante é sempre a própria capacidade humana de fazer o mal.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2021

A Coragem de ser Imperfeito - Brené Brown (resenha)

 

A pesquisadora Brené Brown se tornou famosa mundialmente a partir de uma palestra de muito sucesso no TED Talks. Nesse vídeo, ela compartilha dados, fatos curiosos e experiências pessoais que vivenciou durante a sua pesquisa sobre vulnerabilidade. A ideia central é que, quanto mais abraçamos a nossa vulnerabilidade, quanto mais nos expomos e nos lançamos no mundo, maiores as chances de criarmos vínculos autênticos com as pessoas e de sermos mais felizes e satisfeitos com nossas vidas. Só que isso pode ser bastante difícil e doloroso. No livro “A Coragem de ser Imperfeito”, a pesquisadora divide conosco mais informações e conceitos para nos ajudar nesse processo.

Brené Brown chama esse tipo de pessoa (que abraça a vida, que tem autoconfiança e amor próprio desenvolvidos) de “pessoa plena”. E é muito importante acolher a vulnerabilidade para se tornar uma pessoa plena. Vivemos numa “cultura da escassez”, em que nunca se é bom o bastante, bonito, inteligente, rico, bem sucedido o bastante. E o oposto da escassez não é o excesso, igualmente prejudicial, mas o suficiente, a plenitude.

É preciso entender que vulnerabilidade não é fraqueza: pelo contrário, é sinal de coragem. E também não significa se superexpor em busca de aprovação, isso é carência. É necessário superar a vergonha e saber o momento de pedir ajuda, estabelecer relações baseadas na honestidade e na reciprocidade para “viver com ousadia”, que normalmente é o que todos querem.

Um dos pontos mais interessantes do livro é quando a autora menciona os principais medos das mulheres e dos homens com quem conversa. As mulheres costumam ser cobradas para ser perfeitas e são julgadas o tempo todo. Já os homens costumam ser muito criticados e cobrados, não se permite que eles demonstrem fragilidade.

“A Coragem de ser Imperfeito” tem seus momentos mais “autoajuda”, com exemplos um pouco bobos e desnecessários, mas, de forma geral, é uma obra que de fato nos ajuda a entender alguns pontos da sociedade ocidental e nos dá alguns bons conselhos de como encarar a vida com mais leveza. O mais importante é tentar colocar toda teoria em prática, senão tudo se torna apenas um discurso bonito.

quarta-feira, 24 de novembro de 2021

Relaxa, você não vai dar conta

 

Você não vai dar conta de todos os seus sonhos. Às vezes não dá conta nem da faxina de casa. Você não vai dar conta de todos os seus amores. Às vezes não dá conta nem de si mesmo. Você não vai dar conta de todos os seus afazeres e alguns terão que ser indefinidamente adiados. Mas relaxa. Você não precisa dar conta de tudo o tempo todo. A verdade é que ninguém dá conta. E às vezes a conta não fecha. Ou a gente não leva em conta que pode não dar conta. Porque pode. A gente é humano, cara. Relaxa. Você não vai dar conta. Respire. E refaça as contas.

segunda-feira, 15 de novembro de 2021

A Mulher de Escorpião

 

A escorpiana é um ser profundo. Possui um universo interior muito rico e as emoções sempre à flor da pele. Dona de uma intuição certeira, ela sabe exatamente onde dói a ferida e pode tanto amenizá-la quanto cutucar, dependendo do grau de consideração que nutrir pela pessoa. Discreta, prefere se manter longe dos holofotes e guardar segredo sobre sua vida pessoal e seus sentimentos.

Não pense que ela é feita apenas de rancor e planos de vingança: isso acontece apenas quando é tremendamente magoada e não consegue lidar com a negatividade dos próprios afetos. Na verdade, ela pode ser uma excelente amiga e companheira, muito leal, corajosa e justiceira. Basta incentivar seu melhor lado.

Sua tendência controladora pode prejudicá-la se não souber ser flexível. Porém, não há ninguém melhor para compreender e consolar qualquer coração partido. É capaz de se regenerar muito rápido de situações difíceis: renasce das cinzas como uma Fênix. É preciso muita intensidade para amar uma escorpiana.

terça-feira, 9 de novembro de 2021

Toda Escrita


Toda escrita é
uma leitura
uma releitura
uma reescrita

Toda escrita é
uma representação
uma expressão
uma opinião

Toda escrita é
um mundo
um submundo
um sobremundo

Toda escrita é
uma paixão
breve ou eterna
no coração do autor

Toda escrita é
uma vida
que nasce e morre
na imaginação do leitor

quinta-feira, 4 de novembro de 2021

Sobre quem não gosta da gente

 

É como diz aquele ditado: “Se nem Jesus agradou a todos, quem sou eu pra agradar?”. Eu, como sagitariana good vibes que costuma achar todo mundo “gente boa”, tenho certa dificuldade em aceitar isso. Afinal, por que Fulano não gostaria de mim? Será que fiz alguma coisa? A verdade é que, muitas vezes, não precisamos fazer nada, a pessoa não gosta da gente de graça mesmo. É o famoso “ranço”. Pode ser recíproco ou unilateral.

Participo de muitos grupos e, de vez em quando, rola uma treta. É inevitável. Pessoas têm suas questões e frequentemente as despejam nos outros. Ruídos na comunicação, mal entendidos, tomar algum comentário como ofensa pessoal são os motivos principais de discussões e desavenças. Acontece nas melhores famílias ou, no caso, nos melhores grupos de amigos.

Não há muito o que fazer a não ser aceitar que nem tudo é perfeito e nem todo mundo é legal, mas é possível nos cercarmos de pessoas em quem confiamos e por quem nos sentimos acolhidos. O que certamente não dá pra fazer é mudar o nosso jeito de ser pra agradar uns ou outros. Isso é artificial e autodepreciativo. Sejamos autênticos e procuremos a nossa turma. Na mesma proporção em que há pessoas que não gostam da gente de graça há outras que gostam também de graça. Não precisamos fazer esforço pra ser aceitos e queridos, é algo natural. Se o ranço é livre, o amor também é. E esse é o caminho que vale a pena seguir.

domingo, 31 de outubro de 2021

Azul piscina

 

Seus olhos azul piscina
Não cansam de me fitar
Me porto como menina
Pra neles mergulhar

Seus olhos tão fugidios
Não vinham me procurar
Por que tão arredios
Eu só queria te olhar

Naquela sexta-feira
Encontrei a solução
Você tava de bobeira
Te chamei do portão

Vamo dar uma volta
Rapidinho
Me pega e não me solta
Cachorrinho

Você topou
Nem foi difícil
Será que pensou
Que era o meu vício

Seus olhos assustados
Pedindo clemência
Os pulsos atados
Sentindo ardência

A boca querendo gritar
Com fita isolante
O corpo todo a suar
Foi tão excitante

Te disse pra não ter medo
Sua pupila dilatou
Te contei o meu segredo
E você nem ligou

Essa incompreensão
Me magoou
Parti logo pra ação
Você não gostou

Mas valeu a pena
Agora sim
Resolvi meu dilema
Te tenho só pra mim

Seus olhos azul piscina
Mergulhadinhos no pote
Você é a minha sina
Meu amuleto da sorte

segunda-feira, 25 de outubro de 2021

Sobre prazer e dever

 

Hoje em dia, somos muito cobrados a ser produtivos o tempo inteiro. Afinal, tempo é dinheiro e o dinheiro move o mundo capitalista. Mas, claro, todo trabalhador tem direito a seu momento de lazer. E o que fazemos com isso? Inventamos outras atividades. Aprender um novo idioma, fazer aquele curso de costura, cozinhar, etc. Não que isso seja ruim, porém será que sobra espaço na nossa agenda pra de fato descansar?

Outro dia ouvi uma podcaster dizendo que era contra o conceito de “ócio criativo”. Afinal, não precisamos criar nada no nosso ócio. E viva o direito de ver porcaria na TV ou simplesmente ficar deitada olhando pro teto na nossa folga! Eu concordo, mas na base do “faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço”. Porque sou mestra em transformar lazer em dever.

Tenho tempo livre? Oba, vou ler! E depois vou resenhar o livro pro Insta. Ou então vou estudar, aproveito e adianto aquele exercício de italiano... Mas posso também ver um filme. Pra debater com o pessoal. Ou pra treinar o inglês. E por que as coisas precisam ter sempre um porquê? Quando me dou conta, a vida está tomada de tarefas. Não sei mais o que faço por puro prazer, só pra mim, sem uma razão lógica.

Trabalhar, estudar, socializar, tudo isso é importante. Só que a vida precisa de pausas. É aquela comidinha gostosa que a gente aprecia, o banho demorado, o cochilo da tarde, as conversas à toa com os amigos que dão um alívio e recarregam a nossa energia da semana. É preciso dar um tempo do utilitarismo e viver com mais leveza e descompromisso. Só um pouquinho, vai. Arranja um espaço na agenda. Vai valer a pena.

segunda-feira, 18 de outubro de 2021

A Mulher de Libra

 

A libriana é um ser sociável. Ainda que nem sempre consiga, vive buscando o equilíbrio em todos os setores da sua vida. É racional e prática com suas questões, mais mental do que emocional. Porém, também possui uma grande sensibilidade. Para ela, se relacionar é fundamental. Por isso, vive cercada daqueles que ama e quer proteger.

Não brigue com uma libriana por ser indecisa e insegura em determinados momentos. Ela está apenas procurando escolher a melhor opção não só para si, mas para todos. Se preocupa muito com a harmonia dos grupos que integra. Portanto, detesta confusão, pois isso a desestabiliza.

Famosa por seus “contatinhos”, isso não quer dizer que seja infiel. Quando se apaixona, se entrega de verdade, e, no fundo, sabe quando escolheu o caminho certo. Pode ser uma ótima amiga, sempre com pessoas novas pra apresentar, sorridente, elegante (possui um apurado senso estético) e contemporizadora. É preciso muita harmonia para amar uma libriana.

terça-feira, 12 de outubro de 2021

Sobre cicatrizes

 

Hoje é Dia das Crianças e pensei em publicar algo sobre o tema. Mas, na verdade, vou focar mais nos dramas da vida adulta do que nas alegrias da infância. Nas coisas que ficam pra trás e a gente esquece... Não sou uma pessoa nostálgica, longe disso, porém recordo com carinho os momentos de quando era pequena. Não tinha preocupações, os adultos resolviam todas as “coisas chatas” e a gente podia brincar sossegada. Acredito, no entanto, que o embrião de todas as dores, mágoas e mazelas já estavam ali. Amigos, família e depois a escola começaram a nos cobrar certos comportamentos e práticas. As responsabilidades aos pouquinhos iam surgindo, junto com uma série de expectativas alheias.

Isso se intensifica na adolescência e se consolida na vida adulta. O adulto é um ser cansado, calejado, cheio de cicatrizes. As obrigações muitas vezes nos sufocam e temos que tomar cuidado pra não esquecer de “brincar” com a criança interior, isto é, nos permitir momentos descontraídos de diversão, lazer, descanso. Senão, como costumo dizer, a vida vira uma eterna “to do list”.

Com todos os problemas e cicatrizes, gosto mais de ser adulta. Talvez porque tente valorizar o momento presente – que escolha temos senão viver o agora? Talvez porque, apesar de tudo, me sinto mais segura e confiante, consciente das minhas questões – fruto de anos de terapia. Talvez ainda porque saiba que a criança em mim nunca vai morrer de fato. Ainda sou aquela menina entusiasmada que gostava de calçar os sapatos altos da vovó e cantar. Procuro cuidar com carinho das minhas cicatrizes e manter o otimismo. E você? Também é um adulto-criança?

terça-feira, 5 de outubro de 2021

Sobre namoro por indicação

 

As conversas com os amigos me rendem ótimas pérolas e assuntos pra cronicar. Outro dia, falando sobre a vida amorosa com uma amiga, ouço o seguinte: “Ah, cansei! O melhor mesmo é namoro por indicação”. Namoro por indicação... Seria o velho método de conhecer pessoas por amigos em comum? Acho que a gente ficou tão acostumada a aplicativos que esquecemos disso. E, convenhamos, o Tinder (e afins) desestimula mesmo. A gente entra com vontade de namorar/transar/conversar e sai valorizando cada vez mais nossa própria companhia. Ainda mais se você gosta de homens. Aí então... Força, guerreira/o!

Mas como funcionaria o namoro por indicação? “Oi, tô te recomendando Fulano. Ele é ótimo, sabe conversar e tem todos os dentes da boca, você vai adorar!”. Afinal, Fulano não é qualquer um. Tem bons antecedentes. Cicrano que me indicou, sabe? Vish, isso tá pior que entrevista de emprego. Me envia logo o currículo desse Fulano aí. Ele tem carta de recomendação de alguma ex? (Duvido).

Brincadeiras à parte, não tá fácil pra ninguém. Acho que nem com indicação dá certo. Nem com amigos em comum. Nem com Santo Antônio pendurado (socorro). Os solteiros ainda têm um caminho árduo a percorrer. Ir além do “O que você busca por aqui?” e o “Oi, sumido/a”. Galgar as fronteiras dos encontros reais, sem desmarcar inventando uma desculpa qualquer. Ultrapassar os perigos do friendzone. São muitos obstáculos. Mais fácil ganhar uma medalha olímpica. Os bons encontros são mesmo raros. Por isso devem ser valorizados. Se você está nesse mesmo barco, boa sorte pra nós! Se já encontrou alguém, vê se me indica um amigo. Afinal, nunca se sabe. Não devemos desprezar os velhos métodos.

terça-feira, 21 de setembro de 2021

Você partiu meu coração


Você partiu meu coração
Eu te parti ao meio
E agora, bundão
Tá com receio?

Como vivo seu pulmão
Seu fígado manuseio
Eu não sei dizer não
Não tenho freio

Hannibal se orgulharia
Dessa minha orgia
E toda a vilania
Da minha companhia

Dou sua carne aos porcos
É o que você merece
Você foi morrendo aos poucos
Desse mal não mais padece

Cruel, eu?
Tenha santa paciência
Foi você quem me fodeu
E depois pediu clemência

Você não sabe o que é dor
Não sofreu quase nada
Ninguém mandou, amor
Me fazer de piada

Bebi seu sangue
Comi suas vísceras
Agora lambe
As larvas mortíferas

sexta-feira, 10 de setembro de 2021

Sobre o momento ideal

 

Um dia desses, na terapia, me deparei com uma daquelas questões “tapa na cara” que nos fazem refletir a fundo sobre a nossa vida. Minha terapeuta apontou que eu falava dos meus projetos como se fossem algo muito distante. Por que não arregaçar as mangas e começar logo a dar corpo a eles? Falando assim, parece óbvio, mas quantas vezes não adiamos nossos sonhos, por medo, preguiça ou comodismo?

Acontece que a gente fica, muitas vezes, esperando o “momento ideal”. “Quando eu sair de casa”, “quando casar”, “quando mudar de emprego”, “quando investir em tal coisa”... E, no final das contas, não fazemos nada pra nos planejar e tornar esses eventos possíveis. Porém, se nos colocamos nessa postura “à espera de um milagre”, aí é que as coisas não acontecem mesmo.

Não por coincidência, eu andava muito devagar, dormindo demais e desmotivada há um tempo. Me faltavam metas e disciplina pra realizá-las. Claro que momentos de pausa e descanso são essenciais. Mas até esses momentos cansam quando não gastamos energia em projetos pessoais e profissionais. E são simples os gestos que podem mudar isso. Ler 10 páginas por dia, escrever 500 palavras a cada manhã, caminhar pela tarde três vezes por semana... Pequenas metas. Baby steps. Depois, é claro, podemos pensar em coisas mais audaciosas, mais a longo prazo, como uma mudança de casa ou de carreira, se assim desejarmos. Entretanto, é preciso começar de algum lugar. E sabemos que essa pandemia não tá fácil pra ninguém. Mas a gente faz o que pode pra se manter são.

Eu comecei eliminando alguns maus hábitos que adquiri com o home office, como voltar pra cama logo depois de acordar ou depois do almoço. Procuro dormir bem à noite e, durante o dia, deixo a preguiça de lado pra dar conta das minhas atividades. Não me sobrecarrego de coisas, procuro focar no que preciso fazer e já estou planejando, pro ano que vem, meu Doutorado e minha saída da casa dos pais, vontades que vinham se acumulando em mim. É uma delícia quando um projeto sai do papel. Devagar e sempre em frente, podemos dominar o mundo (insira aqui minha risada macabra). Mas não antes de conseguir o mais difícil, que é nos disciplinar.

quarta-feira, 1 de setembro de 2021

A Mulher de Virgem

 

A virginiana é um ser analítico. Pode até não possuir a vida organizada, mas certamente faz de tudo pra se planejar, pois gosta das coisas em ordem. Comprometida com o que faz, leva bastante a sério o trabalho e as relações. Costume cumprir suas promessas e exigir que as que lhe são feitas também sejam cumpridas.

De espírito crítico, pode ser uma excelente conselheira, daquelas práticas e objetivas, que visam melhorar a vida da pessoa. E normalmente ela está pronta pra ajudar, em especial aqueles que ama. No entanto, se exagera na crítica, pode ser vista como cri-cri. Não diga a uma virginiana que ela é fria e rígida demais, pois, apesar de não demonstrar tanto os sentimentos, ela pode ser extremamente sensível. Mostre-lhe, de forma gentil, que ela pode se permitir relaxar e ser mais flexível.

Atividades ligadas ao contato com a terra, como jardinagem, podem lhe fazer bem, assim como anotações em planners e agendas. Seu estilo metódico se adapta bem a uma rotina regrada. Virginianas geralmente são reservadas, mas podem ser uma ótima companhia, pois são fiéis e honestas. É preciso muito comprometimento para amar uma virginiana.

Ménage à trois

Eu

Um bom livro

E uma taça de vinho

domingo, 22 de agosto de 2021

Resenha: Devaneios de uma mente perturbada

 

Em “Devaneios de uma mente perturbada: contos perturbadores”, Adam Mattos segue sua proposta de incomodar o leitor. A partir de personagens propositalmente caricatos, conforme o autor alerta na sinopse, ele expõe a violência, o egoísmo e a crueldade humanas. Acompanhamos histórias trágicas, através das quais podemos nos emocionar e/ou nos chocar facilmente. Algumas narrativas exploram elementos sobrenaturais, outras se limitam a apresentar a capacidade do ser humano de causar deliberadamente o mal do seu semelhante.

Trata-se de um livro curto e rápido de ler, porém intenso. Nos faz refletir sobre até onde podemos ir em nome de algum vício, paixão ou instinto. Não por acaso, todos os contos contam com a presença da morte, seja em forma de narrador, espírito ou casualidade. Afinal, nenhum de nós está livre de sua interferência...

O livro pode ser adquirido através do site da editora Flyve e também vale a pena acompanhar o Instagram do autor, onde ele divulga seu trabalho: @adam.mattos.escritor

sábado, 7 de agosto de 2021

A Senhora das Moscas (Prêmio Off Flip Crônica)

 Essa quarentena tem servido pra muita coisa, inclusive pra aprofundar minha relação com os insetos, que, convenhamos, nunca foi muito boa. Tive progressos. Já fiquei amiga das abelhas, interpretei como sinal de sorte uma cigarrinha verde ter pousado no meu dedo... Mas confesso que agora o Universo me testou pra valer! Acho que cheguei na fase do chefão: mandaram uma mosca. Nossa, mas tem coisa pior, você poderia pensar. Barata, por exemplo, é muito mais nojento. Sim, porém, os veganos que me perdoem pela heresia, barata é mais fácil de matar. Ela fica parada ali no cantinho, é questão de oportunidade dar uma chinelada precisa ou afogar a bicha em inseticida. Agora mosca...

Tinha tudo pra ser uma noite tranquila. Estava fazendo meus rituais antes de deitar: um pouquinho de yoga e meditação pra relaxar. Foi aí que começou. Zum, zum, zum... Tentei utilizar o procedimento padrão pra lidar com os problemas. Etapa um: ignorar pra ver se passa. Respirei fundo e tentei me concentrar no mantra. A mosca me rondava, provocativa, voava rente ao meu ouvido, roçava minha pele e me dava comichões.

Com muito sacrifício, consegui concluir a meditação e fui deitar. A mosca não desistiu: eu continuava ouvindo seu zumbido perto de mim e de vez em quando sentia suas patinhas nojentas em alguma parte do meu corpo, mesmo coberta. Deus, eu só queria dormir! A janela estava aberta, por que ela não ia embora? Pensei em pegar o inseticida, mas não gosto de usá-lo porque o cheiro é horrível e tóxico. Fora a preguiça de levantar. De qualquer forma, também não conseguia pegar no sono. Suspirei, desolada. Fui pegar o inseticida. Eu ia dormir respirando toxina, mas aquele bicho precisava morrer!

Depois que ela ficou tonta e caiu, catei seu corpinho com um pedaço de papel higiênico. Esmaguei, sem dó, e vi o sangue manchar o papel. Ah, esse poder sobre a vida é tão tentador: a usar com moderação. Devolvi a mosca pro seu devido lugar: o lixo. Borrifei odorizante no quarto pra disfarçar o cheiro ruim. Deitei e dormi na mais profunda paz. Amanhã, quem sabe, não volta a temporada das abelhas? Mas, se as moscas retornarem, já estou preparada. Vem, chuva de gafanhotos! Vem, meteoro! Acho que quem sobreviver a 2020 não morre mais: vamos garantir resiliência suficiente pra eternidade.

segunda-feira, 2 de agosto de 2021

A Mulher de Leão

 

A leonina é um ser majestoso. Dona de uma elegância e imponência naturais, é capaz de seduzir o mundo com seu jeito conquistador. Líder nata, quando sábia, promove o bom funcionamento de um grupo ou até de um estado ou região; quando mal trabalhada, porém, pode ser uma déspota, por isso é preciso cautela. Vaidosa, nunca deixa de se cuidar para seguir impressionando com sua beleza.

Nunca diga a uma leonina que ela não está com nada e pra parar de se achar, você vai levar uma patada. Tente mostrar a ela que o mundo não gira em torno do seu umbigo e faça-a enxergar os problemas dos outros e as questões globais; assim, ela terá mais equilíbrio.

A leonina possui um coração enorme e protege com unhas e dentes os seus. Pode ser muito generosa, fiel e alegre. Uma ótima companhia para todas as ocasiões; afinal, ela está sempre pronta. É preciso muita garra para amar uma leonina.

quarta-feira, 28 de julho de 2021

Real Love

 

I love you so much

Te amo num rompante

I want you so hard

Te quero de verdade

I need you so strong

Preciso do seu nome

No meu telefone

Call me

Vê se não some

Why don’t you come?

Por que não?

Me dá sua mão

Come on

terça-feira, 20 de julho de 2021

Sobre meditar

 

Inspire... Expire... E não pense em nada. Certo? Errado. Meditação não é sobre não pensar em nada: é muito mais sobre não se prender a nenhum pensamento e deixar fluir. Mas leva um tempo até entender isso, especialmente na prática.

Comecei a meditar junto com a prática de yoga, em 2018, após uma crise de ansiedade. Senti que aquilo poderia me ajudar, me daria a paz de que necessitava. Depois se tornou um ritual diário: medito todas as manhãs e/ou noites. Pelo menos uns cinco minutinhos pra começar bem o dia ou pra ir dormir mais tranquila. Costumo fazer a meditação guiada ou o Hoponopono no japamala (uma espécie de terço indiano). E realmente me ajuda muito, já consigo diminuir o nível de estresse e encontrar meu eixo com mais facilidade.

Porém, isso não quer dizer que o exercício, tão saudável para o corpo e o espírito, não envolva os seus desafios. No início, parece que o tempo não passa e que não vai funcionar. Quando o instrutor fala pra relaxar e aquietar os pensamentos, abrir mão do controle e não fazer esforço, já bate aquele desespero: mas, gente, como faz isso? Socorro!

Quem me conhece superficialmente acredita que eu sou super tranquila e por isso tenho facilidade com esse tipo de prática. A verdade é que posso ser bastante impaciente e impulsiva (quem nunca?) e justamente por isso preciso meditar. “Ah, não tenho paciência pra essas atividades paradas...”. É pra esse tipo de pessoa que a prática é mais útil. Pra todos, na verdade. Mas com calma. Sem pressão. Vai no seu tempo. Até porque meditar não é só sentar em postura meditativa. É possível meditar lavando a louça, limpando a casa, ouvindo música... Meditar é ter atenção plena. Viver o momento presente. Bonito, não é? Não custa tentar, pois só faz bem.

segunda-feira, 19 de julho de 2021

Resenha: Ofício de escrever

 

Ofício de Escrever, de frei Betto, trata do ato da escrita com uma leveza e sensibilidade incríveis. O religioso, acadêmico e militante escritor nos fala sobre por que escreve, como é sua rotina, seus autores preferidos e alguns de seus métodos. Enquanto muitos artistas exaltam o sofrimento, como se escrever fosse quase uma maldição, frei Betto afirma que escreve “para ser feliz”, e vai além: “se consegue ser feliz sem escrever, talvez sua vocação seja outra”.

Ele nos consola ao lembrar que vários autores hoje considerados clássicos, como Shakespeare, Tolstói, Flaubert, Baudelaire e Dickens, receberam críticas negativas em sua época, inclusive de outros grandes autores. Não se pode mesmo agradar a todos... Frei Betto exalta a poesia de Adélia Prado e considera a literatura como a mais sagrada das artes, enquanto a música seria a mais sublime. Em sua visão, a literatura não precisa ser engajada, mas é sempre subversiva. E menciona autores que apoiaram regimes ditatoriais, mas, ainda assim, inspiraram os leitores com sua arte. Fala ainda sobre Cervantes, que morreu no mesmo dia de Shakespeare, e se questiona: “Onde andarão os Cervantes capazes de derrotar com a sua pena aqueles que nos miram com as suas armas?”.

Por fim, relata uma conversa belíssima que teve com um sem-teto durante uma ação solidária em que explica com simplicidade sobre a magia da leitura. Segundo frei Betto, a literatura serve para ler melhor o “livro da vida, cujos autores e personagens somos nós”. Amém.

quarta-feira, 14 de julho de 2021

segunda-feira, 5 de julho de 2021

Resenha: Amar, verbo intransitivo

 

Pra começar, adoro esse título, bastante lírico. E já apresenta a tese do livro: amar é um verbo intransitivo, ou seja, não precisa de objeto. Ama-se e pronto. O romance é classificado pelo autor, o modernista Mário de Andrade, como um “idílio” – segundo o dicionário, “amor terno e delicado”.

 

Nessa história, um pai de família contrata uma governanta alemã para iniciar sexualmente seu filho de quinze anos. Assim, além das aulas de alemão, Fraülein é responsável por ensinar Carlos sobre as etapas da conquista e da sedução. O pai acredita que é melhor que isso ocorra dentro de casa do que na rua, em qualquer lugar, com “qualquer uma”, de maneira irresponsável. Aqui já podemos compreender os costumes (hipócritas) da época, os anos 1920. Carlos, como é próprio de sua idade, é tomado pelos arroubos da paixão por Fraülein, mas isso logo passa quando ela cumpre sua função e vai embora. Mais tarde, os dois se reencontram por acaso e ela já está acompanhando o jovem de outra família enquanto ele passeia com uma namorada – provavelmente uma “moça de família” com quem pode acabar se casando.

 

O mais interessante no livro é como o tema do amor e da paixão é tratado de modo filosófico e, ao mesmo tempo, pragmático. Fraülein não é apresentada como uma simples prostituta: trata-se, inclusive, de uma mulher culta e experiente. Ela realmente leva a sério o seu trabalho, o de ensinar a arte de amar. Percebemos também a efemeridade das paixões adolescentes e a condição dos estrangeiros no Brasil, a alemã na condição de governanta e um japonês também como empregado da casa. Vale a pena ler esse clássico da literatura brasileira para acessar a linguagem experimental de Mário de Andrade e refletir sobre a intensidade das primeiras paixões.

sábado, 3 de julho de 2021

Sobre os nossos preconceitos

 

Recentemente, li numa pesquisa francesa que a maior parte das pessoas considera que ainda existe racismo no país, mas nenhum dos entrevistados se admitiu racista. Acredito que no Brasil o resultado seria o mesmo. E aí, bem, a conta não bate, né? Ah, é o racismo estrutural, é um problema da sociedade. E não fazemos todos parte dela? Então somos todos racistas? Em alguma medida, sim, é o que o conceito significa. Mas calma que sempre dá pra piorar. Ops, eu quis dizer melhorar. Às vezes a ironia fala mais alto. Outras vezes ela grita.

A questão é que não podemos ser ingênuos ou cínicos a ponto de acreditar que o preconceito parte sempre do outro. Senão nos tornamos todos alecrins dourados que acabaram de ser semeados no campo recém-arado do alto da colina (o que eu disse sobre a ironia?). Por mais difícil que seja, o primeiro passo pra nos tornarmos uma sociedade melhor é nos tornarmos pessoas melhores. E pra isso precisamos revisitar as nossas sombras e rever os nossos próprios preconceitos.

É necessário um esforço de desconstrução de velhas ideias e reelaboração de novos argumentos. Esse esforço é individual e coletivo, começa na auto-observação e continua no diálogo (ou vice-versa). Afinal, ninguém muda o mundo sem mudar a si mesmo, a não ser um ditador em potencial.

 

P.S.: Juro que não tenho nada contra homens cis hétero e brancos. Até tenho amigos que são (alerta final de ironia).

quarta-feira, 30 de junho de 2021

Léxico do ódio

 

Macaco

Mulata

Queimadinha

Morena

Favelado

Empregada

Escrava

Preto

Pobre

Burro

Feio

Negra bonita

Nega do cabelo duro

Negão da piroca grande

Preto de alma branca

Da cor do pecado

Dia de branco

Inveja branca

A coisa ficou preta

 

Em quantas palavras

Cabe

O seu preconceito?

quinta-feira, 24 de junho de 2021

A Mulher de Câncer

 

A canceriana é um ser emotivo. Sente tudo muito intensamente e tem um coração de mãe, onde abriga todos os amigos e familiares – de quem não faz distinção. Normalmente sensível e carinhosa, pode se tornar uma leoa para defender os seus. Valoriza afetos sinceros e é mestra das aprendizagens emocionais.

Não diga a uma canceriana que seu drama é excessivo ou seu apego exagerado. Só ela sabe o quanto sofrimento seu alto grau de entrega lhe causa. No entanto, se engana quem pensa que ela é frágil. Dona de uma resiliência surpreendente, é capaz de se levantar a cada nova decepção e recomeçar sem medo.

Signo regido pela Lua, seu humor muda de acordo com suas fases. Mas dificilmente nega colo a quem precisa. Se mal trabalhada, pode ser manipuladora e chantagista emocional. Porém, quando bem trabalhada, não há melhor amiga ou amante, pois encanta a todos com sua doçura. É preciso muito tato para amar uma canceriana.

sexta-feira, 18 de junho de 2021

Sobre o escorpião e o sapo

A psiquiatra Ana Beatriz Barbosa abre seu livro “Mentes Perigosas” com a história do sapo e do escorpião para explicar o comportamento dos psicopatas. Um escorpião pede ajuda a um sapo para atravessar o rio. O sapo pergunta como pode saber se o escorpião não vai picá-lo no caminho, mas este garante que isso não vai acontecer, ou os dois morreriam. O sapo, então, aceita realizar o favor. Porém, na metade do caminho, o escorpião o pica. O sapo questiona: “Por que você fez isso? Agora vamos os dois morrer!”. Ao que o escorpião replica: “Eu sei. Mas é da minha natureza”.

Vou contar outra história boba, de caráter pessoal. Eu estava a fim de um cara e sabia que ele iria ao evento de uma amiga. Fui animada para encontrá-lo. Chegando lá, minha amiga ainda não estava, mas ele sim... Com a namorada. Conversei com os dois e descobri... Que a garota era muito gente boa. Nos demos bem e passamos momentos bem agradáveis, até a minha amiga chegar. O que eu posso fazer? É da minha natureza. Tenho grande fascínio pelos escorpiões, aqueles que condenam à morte, via meus estudos sobre psicopatas. Mas eu estou mais pra sapo. Morro tentando a salvação.

Na vida, tem gente escorpião e gente sapo. Os que confiam e os que ferem. É sempre uma escolha. O que não quer dizer que devemos ser ingênuos e confiar em qualquer escorpião que aparece pelo caminho. É importante saber nos proteger. Por isso ignorar o mal é tão nocivo quanto idolatrá-lo. Temos que conhecer o inimigo para combatê-lo. Ainda assim, seguir acreditando. É difícil, mas sempre há um caminho. Deve haver outras maneiras de atravessar o rio. Ninguém precisa levar um escorpião nas costas.

Platônico

 

Troco tudo

Por um amor

Platônico

 

Traço tudo

Por um viés

Daltônico

 

Tranco tudo

Por um talvez

Irônico

 

O abstrato

Me fascina

O resto é chato

Me fulmina

 

Não sofro não

Eu rio à toa

Tem drama não

Tem é história

sábado, 12 de junho de 2021

Par Ideal

 

Preciso de alguém

Que não precise de mim

Preciso de alguém

Que entenda

O meu não precisar

De ninguém

 

Preciso de alguém

Que me entenda

E me explique

Pra mim

 

Preciso de alguém

Que não corra atrás

Nem se adiante demais

Mas que caminhe

A meu lado

 

Preciso de alguém

Meio parecido

Mas bem diferente

Assim igual

Igualzinho

A você

terça-feira, 8 de junho de 2021

Resenha: Gradações Hiperbólicas

 

Em seu livro de estreia, Gradações Hiberbólicas, Kátia Surreal adota um estilo sombrio, oscilando entre a sátira, o erótico e o pornográfico. É possível se divertir e se excitar ao mesmo tempo com seu livro. Um riso nervoso do leitor deve acompanhar a maior parte da obra. Ela também utiliza metáforas e jogos de palavras sonoros para brincar com a linguagem como brinca com os temas tratados. Leitura recomendada para todos os amantes da boa poesia, em especial aqueles mais ousados, que gostam de provocações estéticas e temáticas. Para deixar o leitor com um gostinho do que pode encontrar no livro, deixo aqui um pequeno poema da autora:

 

Estrias

 

Minhas estrias, meus estresses

extrapolam

o tênue tecido

em atrito

co’as estradas estreitas

que trilham

entre trevas e estrelas

 

O trâmite estrangulado

estressado

estriado

estreia

estria!

trrr...

 

Você também pode encontrar mais textos em sua página do Instagram @katiasurreal_

Sucção

 

Sugar

Suga

Me pluga

E despluga

É mole?

Engole

My whole

Hole

 

Honey

Me chame

Mame

E desmame

Diz mammy

 

Sweetheart

Faz arte

Me cate

E descarte

 

Baby

Tem bis?

Me quis

E desquis

Me desfiz

Por um triz

Flor de Lis

 

Darling

Vem pra mim

Diz que sim

E fim

quinta-feira, 3 de junho de 2021

A Mulher de Gêmeos

 

A geminiana é um ser dinâmico. Mestra da comunicação, precisa sempre de alguém com quem trocar. Sabe ser multitarefas e se dividir entre diversos grupos e atividades. Quando dona de suas dualidades, é capaz de alegrar e entreter facilmente aqueles com quem convive.

Não diga a uma geminiana para deixar de ser superficial e duas caras, você pode estar interpretando mal suas habilidades. E ela vai saber, com um simples discurso, te colocar no chinelo, então tenha cuidado! Suas nuances são sutis e só quem a conhece bem entende os melhores momentos para abordá-la. Pode variar bastante de humor, mas, em geral, é muito amistosa.

Criativa e curiosa, corre o risco de começar várias atividades e não terminar, tecer projetos e não seguir o plano. Porém, quando aprende a focar, é um sucesso em tudo que faz. Camaleoa, sabe se adaptar aos mais diferentes contextos. É preciso muita flexibilidade para amar uma geminiana.

segunda-feira, 31 de maio de 2021

Sobre confiança

 

Recentemente, vi o filme indicado ao Oscar “Meu Pai”, com Anthony Hopkins. A obra nos transporta à confusão mental vivenciada por um idoso com Alzheimer. Ele mistura rostos e nomes, lugares e fatos, sem conseguir se situar no tempo e no espaço. É um processo bastante sofrido para o doente e seu entorno. Fiz uma associação com o livro “A Profecia Celestina”, presente de um amigo querido, que terminei há pouco tempo também. No início do livro, que propõe uma espécie de despertar espiritual, o protagonista observa as estranhas coincidências que ocorrem em sua vida e explica como tudo parece conduzi-lo a seu destino. Assim, pessoas e situações vão lhe guiando para as próximas etapas de seu aprendizado.

 

Se pararmos pra pensar, a vida é isso mesmo: uma série de acontecimentos que vão se conectando e pessoas que vamos encontrando para diversos tipos de trocas de experiência. O que acontece quando a gente adoece? Todos os dias parecem meio iguais porque fugimos da nossa rotina. Tendemos a nos sentir inúteis, parasitas sociais. O mundo fica esquisito, um lugar inseguro porque não estamos bem e não conseguimos mais estabelecer conexões com lugares, coisas e pessoas como antes. É isso o que acontece com Anthony no filme. Então, ele mergulha em sua própria mente e se perde em sua confusão interior. Se pudesse ainda confiar na palavra da filha e das enfermeiras que cuidam dele, será que seu quadro não melhoraria e ele conseguiria obter certa qualidade de vida nos anos que lhe restam?

 

Não quero aqui ser cruel e culpabilizar a pessoa doente. Trata-se de um processo inconsciente e muito, muito sofrido. Essas pessoas devem ser acolhidas e bem tratadas. Porém, o meu ponto é: não seríamos pessoas muito melhores, uma sociedade muito melhor se simplesmente confiássemos mais um nos outros, se nos entregássemos ao fluir natural da vida, aceitando as mudanças e novas perspectivas que se abrem aos nossos horizontes? O mesmo amigo que me deu o livro disse, em certa ocasião, uma frase interessante: “O Universo nos providencia as ferramentas que precisamos pra nossa evolução”. E é verdade, se a gente passar a reparar. Mas você confia em mim, cara(o) leitor(a)? Espero que sim. Porque precisamos disso. Ainda mais nesse momento histórico que vivemos. Precisamos confiar que vai passar, mas por enquanto ainda temos que nos proteger, cuidar da gente e dos nossos. Confie. Vai passar sim. Assim que cada um fizer a sua parte.

sexta-feira, 28 de maio de 2021

Resenha: Depois a louca sou eu



Neste livro, a colunista da Folha Tati Bernardi, nos expõe, em formato de crônicas, o quanto sofre sua vida inteira com crises de ansiedade. Ela utiliza o humor como válvula de escape e aborda um tema muito importante para a nossa época: a saúde mental. Tati fala sobre o histórico familiar e a dificuldade em manter amizades, compromissos no trabalho e etc. por conta de sua intensidade e insegurança. Ela também aborda o vício em remédios e a tendência de se envolver em relacionamentos tóxicos. Após tentar vários tratamentos, a autora finalmente começa a se aceitar como é e que terá que conviver com as crises ao longo da vida, buscando na escrita uma maneira de desabafo e até de terapia.

Seguem alguns trechinhos do livro:

“Coisa demais para pensar, coisa demais para lidar. Seis intermináveis anos em Marte, em carne viva, correndo o risco de travarem meu carro, travarem a estrada, travarem minha saída com frases como ‘fica aí, doida’. Como se faz para ir a qualquer lugar sem achar isso gigantescamente insuportável? Sem ficar cansada antes mesmo de ir?”

“Eu teria para sempre, depois daquele dia, medo do demais. Qualquer coisa demais me daria enjoo. Eu perseguiria uma vida de “hoje tá tudo mais ou menos e eu vou deitar pra ver TV e acabar dormindo.”

“A verdade é que não lembro de existir sem estar passando meio mal, com a pressão meio baixa, hipoglicemia, o coração meio disparado, tudo meio rodando, a estabilidade do ar sempre demorando a voltar qualquer que fosse o movimento. E muito enjoo.”

“Se já é complicado ser mulher, ser uma mulher medicada é complicadíssimo.” “Se a gente pudesse, mesmo que de vez em quando, mesmo que por pessoas que discutem dinheiro com a gente, mesmo que de mentirinha, ‘ser gostada’ como filha, pobres das milionárias indústrias farmacêuticas.”

Curiosidade: Tem um filme com a Débora Falabella de mesmo título ;)

sexta-feira, 21 de maio de 2021

Sobre esperança

 

“O que você faria se tivesse apenas mais um dia de vida?”. Essa pergunta clássica vive aparecendo nos métodos de idiomas pra aprender a formular hipóteses. O tempo pode variar: um dia, uma semana, um mês... Ela é mote de músicas também. Paulinho Moska canta em “O Último Dia”: “Meu amor, o que você faria se só te restasse este dia?”. E de filme: em “Babenco – Alguém tem que ouvir o coração e dizer Parou”, o diretor recebe a sentença médica de um mês de vida; por isso resolve realizar sua última produção.

 

Pra trabalhar o tema com os meus alunos de francês, uso a música “Mourir demain” (Morrer amanhã, de Pascal Obispo e Natasha St Pier). É uma espécie de equivalente da canção do Moska. Ela diz que alguns pegariam um avião, outros se trancariam em casa, outros iriam querer ver o mar pela última vez, fazer amor, fazer uma festa, rezar ou antecipar o fim... E você? “Se o mundo fosse acabar, me diz o que você faria”...

 

Eu sempre digo que teria esperança até o fim. Provavelmente ficaria com meus próximos, comeria bem e bastante e, se possível, faria uma última viagem. Bem sagitariana. Mas desconfiaria do fim. Quem disse que vai acabar? Médicos erram em diagnósticos, cientistas erram em previsões... Quantas vezes não morri, metaforicamente, e voltei? Porém, é uma boa pergunta pra gente reavaliar o que é prioridade. Nos seus últimos momentos, como, onde e com quem você gostaria de estar, se pudesse escolher? Será que estamos sabendo apreciar a vida? Há quem diga viver sempre como se fosse o último dia. Outros como se fosse o primeiro. Vivamos, enfim, como se fosse o único. Porque é. Este é o único instante que você sabe que tem. Depois, tudo muda, acaba, se transforma e não sabemos mais. Ainda mais na pandemia. A morte está perto demais pra ignorar. Mas, enquanto há vida, há esperança. Vamos viver, por nós e pela lembrança de quem amamos. Normalmente não sabemos quanto tempo nos resta, mas sabemos que esse tempo é limitado. Aproveite o presente.

quarta-feira, 19 de maio de 2021

Resenha: Ousadas vol. 2

 

No livro “Ousadas: mulheres que só fazem o que querem”, volume 2, a francesa Pénélope Bagieu dá continuidade a seu projeto de apresentar histórias de mulheres fortes e destemidas, que desafiaram sua época para conquistar o que queriam. Conhecemos, em um divertido formato de HQ, artistas, ativistas, inventoras, contraventoras e etc., figuras marcantes, resgatadas por seu papel histórico-social.

Alguns exemplos que me marcaram:

- Sonita Alizadeh é uma rapper afegã contemporânea, ainda viva, que denuncia em suas músicas a condição da mulher em seu país, em especial os casamentos forçados de crianças em troca de dote. Ela quase foi vítima de uma dessas negociações e foi rejeitada por sua família após fazer sucesso como rapper, mas conseguiu ser acolhida nos Estados Unidos.

- A famosa cantora Betty Davis enfrentou muita resistência em sua época com suas letras maliciosas e danças sensuais. Imaginem uma negra expondo assim sua sexualidade nos anos 1970? Mas ela conhece seu valor e faz impor sua vontade, deixando um legado importante de renovação para o mundo musical.

- Frances Glessner Lee, dona de casa entediada, acaba encontrando uma ocupação ao fazer miniaturas. Ao conversar com amigos médicos do irmão, descobre a dificuldade em exercer a medicina legal por falta de preparação policial. Então, ela tem a ideia de fazer maquetes com réplicas perfeitas de cenas de crimes hediondos para formar os profissionais que trabalham com isso. Ela é nomeada capitã da polícia de New Hampshire (a primeira mulher a obter o título). Até hoje, suas maquetes são utilizadas como ferramentas de trabalho por criminólogos.

 

Pra quem ainda não viu, comentei há pouco sobre o volume 1, que é tão interessante quanto!

segunda-feira, 17 de maio de 2021

Resenha: Ousadas, vol. 1

 

No livro “Ousadas: mulheres que só fazem o que querem”, volume 1, a francesa Pénélope Bagieu nos apresenta, em formato de HQ, histórias de mulheres fortes, que ousaram enfrentar a sociedade para trilhar seu próprio caminho. A maior parte das personalidades citadas foram apagadas da História, apesar de seus grandes feitos. A autora utiliza o bom humor para narrar as trajetórias das mulheres, que podem muito bem nos inspirar.

Alguns exemplos que me marcaram:

 

- Nzinga foi rainha do Ndong e da Matamba. Negociou e lutou contra os colonizadores, enfrentou os homens da família para chegar ao poder (nada que um veneninho não resolva), se autoproclamou “homem” e decretou que não haveria rei, teve vários concubinos (aí eu vi vantagem) e participou ativamente dos campos de batalha até quase o fim da vida.

- A dançarina Joséphine Baker, que fez sucesso na França dos anos 1920 em diante, além de participar da revolução dos costumes e artística, também foi uma espiã da resistência durante a Segunda Guerra Mundial e se engajou em causas sociais, como a luta pelos direitos civis e discriminações raciais.

- A transexual Christine Jorgensen se tornou uma celebridade em meados do século XX e contribuiu muito para as lutas LGBTQ+. Atuou principalmente como cantora e exigiu respeito da mídia em suas entrevistas, deixando preconceituosos sem resposta. Ela ficou feliz ao observar a evolução das mentalidades ao longo de sua vida.

 

Em breve, comentarei sobre as histórias do volume 2, que são igualmente interessantes!

terça-feira, 11 de maio de 2021

A Mulher de Touro

 

A taurina é um ser resistente. Luta com unhas e dentes pelos seus ideais e pelas pessoas que lhe são queridas. Costuma pensar a longo prazo e não se importa em esperar pelo que vale a pena. É doce e agradável com quem ama, mas também sabe ser feroz. Gosta de estabilidade, tem o dom de manter o que conquista.

Não diga a uma taurina pra deixar de ser teimosa e turrona com ideias contrárias às suas nem insinue que ela é possessiva e apegada demais. Ensine com calma a importância de deixar ir e abrir espaço para as novidades. Aos poucos, é possível vencer sua resistência, mas sempre com carinho e paciência.

Pertencente a um signo ligado aos cinco sentidos, ela sabe apreciar cada sensação que a vida lhe proporciona. Valoriza boas comidas para o corpo e para o espírito, relações sólidas e conforto material. É preciso muita sensibilidade para amar uma taurina.

domingo, 9 de maio de 2021

Sobre o lado B da maternidade

 

Hoje é Dia das Mães e nossos feeds estão repletos de fotos e homenagens às mães e figuras maternas importantes nas vidas de nossos amigos. Eu mesma postei, no perfil pessoal, uma foto em família para simbolizar a data. Adoro mamãe: nós nos damos super bem e devo muito a ela, que me criou com amor, respeito e diálogo. Mas essa é a parte bonitinha da qual nos orgulhamos de falar. E vocês já devem saber que eu sou “fogo no parquinho”. Então, não poderia deixar de lembrar o lado B da maternidade.

Um dos meus livros preferidos, senão o preferido, é “Precisamos Falar sobre o Kevin”, da autora americana Lionel Shriver. Há também uma ótima adaptação cinematográfica com a camaleônica Tilda Swinton no papel principal. Nessa história, Eva, que a princípio não deseja ser mãe, vive seu inferno pessoal após dar à luz Kevin, um garoto problemático desde a infância. A relação que se estabelece entre mãe e filho é de tensão: ele recusa seu peito para mamar, chora sem parar quando bebê, destrói seu escritório quando criança, passa vírus para seu computador de trabalho quando adolescente, até que, no grand finale, provoca uma chacina em sua escola, matando colegas e funcionários. Isso mesmo: Kevin é um garoto Columbine. E Eva é forçada a olhar para trás, tentando buscar pistas no passado de que havia algo muito errado na personalidade do filho. Ela se pergunta qual o seu grau de culpa nas atitudes dele. Seria possível ter evitado a tragédia?

Em “O Acerto de Contas de uma Mãe”, Sue Klebold, a mãe real de um garoto Columbine, se faz a mesma pergunta. Ela considera que o filho teve uma criação completamente normal e amorosa, tenta nos mostrar isso e compartilha sua dor ao perdê-lo em circunstâncias tão trágicas. Não se sabe o que é mais assustador: a ficção ou a realidade. Se “ser mãe é padecer no paraíso”, imagina o custo pra essas mães.

Cabe aqui lembrarmos que a maternidade é linda, mas nem um pouco glamourosa. Envolve uma enorme dose de responsabilidade. Especialmente em uma sociedade patriarcal que culpa a mulher por qualquer erro. É engraçado quando rimos dos clichês com personagens como Dona Hermínia (que Deus o tenha, nosso querido Paulo Gustavo). É trágico quando tentamos empatizar com mães de assassinos e suicidas. Mas, certamente, não é brincadeira.

Só pra citar um último exemplo literário: em “A Filha Perdida”, a italiana Elena Ferrante retrata um caso de abandono. Porém, aonde quer que vá, a mãe-protagonista se sente perseguida por suas crias, não consegue cortar o vínculo dentro de si, por maior que seja sua fadiga mental. Podemos julgar essa mulher? Pelo menos não devemos, porque não sabemos o custo emocional que esse gesto teve para ela.

Conclusão: valorizem suas mães, mas não exijam demais delas, pois são seres humanos falhos e frágeis às vezes. E, para as mães de plantão que possam estar me lendo, sejam mães possíveis e não se cobrem tanto. Vocês também precisam ser cuidadas.

O meu é maior

 Inveja do pênis

É uma ova

Dr. Freud

Como diz Maria Rita

Sou mais macho 

Que muito homem

E se é questão

De tamanho

Difícil é achar um cara

Com um pau

Maior do que o meu

segunda-feira, 3 de maio de 2021

Seguro

 

Boa tarde

Gostaria de um seguro

Contra coração partido

Posso pagar no cartão?

 

Desculpe, senhora

Esse não podemos oferecer

Está em falta

 

Algum produto semelhante disponível?

 

O mais próximo que temos

É o amor próprio

Mas precisa ser renovado

A cada desilusão

 

Quanto trabalho!

Não há algo mais prático?

 

Não se brinca com qualidade

Um serviço mais barato

Pode acabar custando caro depois

 

Mas é muito perigoso

Andar com o coração exposto

Preciso de uma garantia

 

Nesse caso

Minha senhora

Eu recomendo

A velha e boa terapia