segunda-feira, 3 de fevereiro de 2025

Crônica: Não pare

 

Na maior parte do tempo, eu sei exatamente o que estou fazendo. Meu pensamento é lógico e organizado, minha escrita é consciente, meu dia é planejado. Sendo assim, costumo lidar mal com imprevistos e improvisações. A dança me ensina bastante nesse sentido. Você pode estudar e dominar a técnica, mas existe o lado da emoção, da entrega, do descontrole, do risco. Você não pode pensar demais, tem que agir, fazer movimentos no tempo certo da música. Se esqueceu o passo, não pare, improvise, pegue o próximo, está tudo bem. Não pare. Faça pausas nos momentos certos, mas não pare.

 

Costumo travar em situações de perigo, medo, insegurança ou qualquer catástrofe iminente. É assim que entro em crise. Se sou traída, dispensada, maltratada, assaltada, assassinada, como já fui. Paraliso. Entro em pane. Não sei lidar. É muita coisa pra processar e eu preciso ficar bem, ser produtiva, tenho uma agenda a cumprir, não tenho tempo pra sentimentos baratos. Só que escolher não sentir acaba saindo muito caro. Na fantasia que crio, de alguma forma superdimensiono a dor. Tudo parece bem pior do que na realidade. Fico me punindo por um crime que não cometi. Mas hoje eu pago a minha fiança.

 

Porque hoje eu tenho a dança. E, mesmo que tudo esteja desmoronando, sei que posso continuar. Não pare. Não se preocupe se tudo não sair perfeito, do jeito que você imaginou. Vai. Arrisque um novo passo. Ouça a música. Deixe seu corpo responder. Respire. Continue. A vida é um palco. Entramos em cena, muitas vezes, sem preparação. Às vezes a gente cai, erra ou mesmo paralisa. Mas a música continua e, no nosso tempo, no nosso ritmo, do nosso jeito, voltamos a dançar. Bom espetáculo!

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