segunda-feira, 19 de julho de 2021

Resenha: Ofício de escrever

 

Ofício de Escrever, de frei Betto, trata do ato da escrita com uma leveza e sensibilidade incríveis. O religioso, acadêmico e militante escritor nos fala sobre por que escreve, como é sua rotina, seus autores preferidos e alguns de seus métodos. Enquanto muitos artistas exaltam o sofrimento, como se escrever fosse quase uma maldição, frei Betto afirma que escreve “para ser feliz”, e vai além: “se consegue ser feliz sem escrever, talvez sua vocação seja outra”.

Ele nos consola ao lembrar que vários autores hoje considerados clássicos, como Shakespeare, Tolstói, Flaubert, Baudelaire e Dickens, receberam críticas negativas em sua época, inclusive de outros grandes autores. Não se pode mesmo agradar a todos... Frei Betto exalta a poesia de Adélia Prado e considera a literatura como a mais sagrada das artes, enquanto a música seria a mais sublime. Em sua visão, a literatura não precisa ser engajada, mas é sempre subversiva. E menciona autores que apoiaram regimes ditatoriais, mas, ainda assim, inspiraram os leitores com sua arte. Fala ainda sobre Cervantes, que morreu no mesmo dia de Shakespeare, e se questiona: “Onde andarão os Cervantes capazes de derrotar com a sua pena aqueles que nos miram com as suas armas?”.

Por fim, relata uma conversa belíssima que teve com um sem-teto durante uma ação solidária em que explica com simplicidade sobre a magia da leitura. Segundo frei Betto, a literatura serve para ler melhor o “livro da vida, cujos autores e personagens somos nós”. Amém.

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