Ofício de Escrever, de frei Betto, trata do ato da
escrita com uma leveza e sensibilidade incríveis. O religioso, acadêmico e
militante escritor nos fala sobre por que escreve, como é sua rotina, seus
autores preferidos e alguns de seus métodos. Enquanto muitos artistas exaltam o
sofrimento, como se escrever fosse quase uma maldição, frei Betto afirma que
escreve “para ser feliz”, e vai além: “se consegue ser feliz sem escrever,
talvez sua vocação seja outra”.
Ele nos consola ao lembrar que vários autores hoje
considerados clássicos, como Shakespeare, Tolstói, Flaubert, Baudelaire e
Dickens, receberam críticas negativas em sua época, inclusive de outros grandes
autores. Não se pode mesmo agradar a todos... Frei Betto exalta a poesia de
Adélia Prado e considera a literatura como a mais sagrada das artes, enquanto a
música seria a mais sublime. Em sua visão, a literatura não precisa ser
engajada, mas é sempre subversiva. E menciona autores que apoiaram regimes
ditatoriais, mas, ainda assim, inspiraram os leitores com sua arte. Fala ainda
sobre Cervantes, que morreu no mesmo dia de Shakespeare, e se questiona: “Onde
andarão os Cervantes capazes de derrotar com a sua pena aqueles que nos miram
com as suas armas?”.
Por fim, relata uma conversa belíssima que teve com um
sem-teto durante uma ação solidária em que explica com simplicidade sobre a
magia da leitura. Segundo frei Betto, a literatura serve para ler melhor o “livro
da vida, cujos autores e personagens somos nós”. Amém.
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