Pra começar, adoro esse título, bastante lírico. E já apresenta a tese do
livro: amar é um verbo intransitivo, ou seja, não precisa de objeto. Ama-se e pronto.
O romance é classificado pelo autor, o modernista Mário de Andrade, como um “idílio”
– segundo o dicionário, “amor terno e delicado”.
Nessa história, um pai de família contrata uma governanta alemã para
iniciar sexualmente seu filho de quinze anos. Assim, além das aulas de alemão,
Fraülein é responsável por ensinar Carlos sobre as etapas da conquista e da
sedução. O pai acredita que é melhor que isso ocorra dentro de casa do que na
rua, em qualquer lugar, com “qualquer uma”, de maneira irresponsável. Aqui já
podemos compreender os costumes (hipócritas) da época, os anos 1920. Carlos,
como é próprio de sua idade, é tomado pelos arroubos da paixão por Fraülein,
mas isso logo passa quando ela cumpre sua função e vai embora. Mais tarde, os
dois se reencontram por acaso e ela já está acompanhando o jovem de outra
família enquanto ele passeia com uma namorada – provavelmente uma “moça de
família” com quem pode acabar se casando.
O mais interessante no livro é como o tema do amor e da paixão é tratado
de modo filosófico e, ao mesmo tempo, pragmático. Fraülein não é apresentada
como uma simples prostituta: trata-se, inclusive, de uma mulher culta e
experiente. Ela realmente leva a sério o seu trabalho, o de ensinar a arte de
amar. Percebemos também a efemeridade das paixões adolescentes e a condição dos
estrangeiros no Brasil, a alemã na condição de governanta e um japonês também
como empregado da casa. Vale a pena ler esse clássico da literatura brasileira
para acessar a linguagem experimental de Mário de Andrade e refletir sobre a
intensidade das primeiras paixões.
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