sábado, 20 de fevereiro de 2021

Sobre perdão à distância

 

Num dia desses, durante uma conversa com uma amiga, a criatura me soltou a seguinte pérola: “A gente tem que perdoar sim. Mas às vezes é melhor perdoar à distância”. Foi engraçado, além de bastante sincero e, por que não, sábio. Fiquei pensando sobre esse conceito de “perdão à distância” e sobre o perdão em si. Inspirada por outra amiga, e essa vou citar pra lhe dar os devidos créditos, a Carollina Costa, que escreveu recentemente em seu blog de terapia holística sobre perdão e culpa, decidi elaborar essa mini-crônica.

Perdoar não é nada fácil, como todos nós bem sabemos. Quantas vezes não ficamos presas ao passado, remoendo velhas feridas e calculando tudo o que poderia ter sido feito de diferente pra evitar um desastre? Acontece que a vida não é um cálculo matemático. As coisas fogem constantemente do nosso controle. Planejar ajuda, mas não é possível prever o que está por vir, como o outro vai reagir ou ainda como nós mesmos vamos ficar diante das circunstâncias. Perdoar o passado, a outra pessoa, ou a nós próprias, é se libertar do que não podemos mais mudar pra conseguir seguir em frente. É entender que os erros são parte essencial do aprendizado.

Se eu soubesse o que sei hoje, teria evitado muito sofrimento. Mas, se não tivesse vivido essas situações adversas, não saberia o que sei hoje. A compreensão é sempre posterior. E, enquanto não aceitamos os fatos e as pessoas como são, perdoando suas falhas, tendemos a repetir os mesmos erros, como crianças teimosas que se recusam a crescer.

Se considera que o outro não merece o seu perdão, convença-se de que você merece essa paz. Afinal, ninguém precisa do seu perdão (além de você mesma/o). Nem você precisa perdoar pra mostrar o quanto é bom e evoluído (parabéns, lírio do campo, agora volte duas casas). Você não precisa e nem pode voltar lá atrás pra consertar tudo. Mas pode escolher fazer melhor da próxima vez. Então, perdoe. Mesmo que seja à distância. Mesmo que demore (respeite o seu tempo e acolha a sua dor). Mas faça-me/nos/se o favor de se/nos/me perdoar.

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