sexta-feira, 5 de fevereiro de 2021

Sobre o ideal do amor



Como toda a geração (ou todas as gerações, porque são várias) que cresceram vendo os filmes da Disney e as comédias românticas de Hollywood, cresci acreditando no amor verdadeiro, aquela paixão arrebatadora que daria sentido à vida, aquela pessoa tão conectada com a gente que é capaz de ler os nossos pensamentos. O amor é uma coisa muito bonita, sempre, mas não dá pra idealizá-lo a ponto de torná-lo impossível. Porque, nesse caso, a cada frustração a gente se sente cada vez menos digno desse grande amor que nos prometeram. Caramba! Nunca dá certo, o que há de errado comigo? Nada. E dá certo sim. Você que não tá vendo, lírio do campo.

Não é “dedo podre” nem má sorte. É falta de educação sentimental. A gente não é estimulada a desenvolver a inteligência emocional e depois tem que ficar correndo atrás de terapia pra aprender a nomear os sentimentos, como uma criança. “Eu não sei por que fico pensando nele...”. “Você tá com saudade”, explica a psicóloga. “Queria que ele morresse!”. “Que bom que você pode sentir raiva”. “Acho que vou chorar, eu sinto tanta...”. “Tristeza?”. Diagnóstico: humanice aguda.

Eu acredito nos bons encontros. Em experiências autênticas. Em felicidade compartilhada. E paixões arrebatadoras existem sim, mas nem sempre duram. O que não dá pra fazer é jogar a responsabilidade da nossa felicidade e êxito nas costas do outro. E a gente diz que não, eu não faço isso, eu me amo em primeiro lugar, mas na prática, meu bem, é muito mais difícil sustentar essa postura. Até porque se, por outro lado, ficamos armados demais, também não há entrega.

O que a gente faz então? Não faz. A gente vive. E aceita que a realidade nem sempre vai corresponder aos nossos sonhos dourados, que nem todos os amores vão render páginas de um belo romance, mas todos vão nos ensinar alguma coisa. A gente vive e se adapta e aprende e melhora e é feliz ao nosso modo, dentro das nossas possibilidades. A gente deixa de ser criança mimada fazendo birra porque não consegue ter o que quer, deixa de culpar o outro pelos nossos fracassos e se responsabiliza pela nossa própria história. A vida não é um filme da Disney, mas tem o melhor protagonista possível: você. A panela não precisa de tampa nem a laranja está pela metade. Somos bolos inteiros e deliciosos, com ou sem cereja no topo.

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