quinta-feira, 26 de dezembro de 2024

Resenha - Ainda estou aqui

 

Em janeiro de 1971, o ex-deputado Rubens Beyrodt Paiva saiu de sua casa na zona sul do Rio de Janeiro escoltado por militares. E nunca mais voltou. Ele deixou a esposa, Eunice Paiva, e cinco filhos, dentre eles Marcelo Rubens Paiva, que se tornou escritor e imortalizou a história do pai e da família através da literatura e do cinema com “Ainda Estou Aqui”, cujo filme é dirigido por Walter Salles e pode representar o Brasil no próximo Oscar.

No filme, acompanhamos momentos de uma família feliz, destruída pelos horrores da ditadura. Eunice Paiva, brilhantemente interpretada por Fernanda Torres, e mais tarde por Fernanda Montenegro, luta incansavelmente para descobrir o que aconteceu com o marido (Selton Mello) e, em seguida, ter sua morte reconhecida e os culpados punidos. Porém, ela só consegue obter a certidão de óbito de Rubens Paiva muitos anos depois. A justiça não é plenamente feita, mas ao menos sua memória é preservada.

Eunice tenta proteger a família evitando tocar no assunto da morte do marido com os filhos, o que gera alguns conflitos com as mais velhas. Em uma cena icônica em que a família vai tirar uma foto para o jornal, ela pede que todos sorriam, contrariando as instruções de que fiquem sérios para parecerem tristes. Mesmo passando por problemas financeiros, o que faz com que precise se mudar para São Paulo, onde tem família que a ajude, Eunice não se deixa abater: ela volta a estudar, se forma em Direito e luta pelas causas indígenas. Trata-se de uma mulher muito forte.

O livro complementa várias informações e curiosidades da história do filme. Conhecemos mais detalhes da infância de Marcelo e seus irmãos, detalhes do processo de prisão e execução do pai, da busca pela verdade e finalmente da cruel doença da mãe, que sofreu de mal de Alzheimer. E que repetia, ao fim da vida: Ainda estou aqui.

Vale a pena conferir as duas obras. E torcer muito por um sonhado (e merecido) Oscar para o Brasil.

“O fotógrafo reclamava: fiquem mais sérios, mais tristes, mais infelizes. Não conseguimos. Ou não queríamos. A irreverência sempre nos inspirou. Observo a foto hoje e vejo nos olhos da minha mãe: quem você pensa que é, para nos fazer infelizes? Nos indignamos. Não é a imprensa que nos pauta, nós a pautamos.” (Marcelo Rubens Paiva – Ainda estou aqui, 2015)

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