segunda-feira, 21 de março de 2022

Resenha: Preliminares, nudez no verso

 

Em “Preliminares: nudez no verso”, Daniela Laubé explora o erotismo de maneira delicada, inteligente e metalinguística. Ela brinca com as palavras, numa espécie de jogo sensual, bastante interessante e sofisticado. No posfácio, ainda nos explica a proposta do livro e nos revela suas inspirações, que vão dos “Cânticos dos cânticos” à poeta Olga Savary, considerada a primeira autora de um livro inteiramente dedicado à temática erótica no Brasil.

Os versos de Daniela vão ficando mais ousados e o sentido mais próximo da prática sexual conforme as páginas avançam. Porém, em nenhum momento perdem a classe, a magia ou a beleza. Há uma série de aldravias, poemas curtos de seis versos, com uma palavra por verso, no meio do livro. Na minha opinião, o poema mais genial é aquele composto apenas por símbolos, já que as palavras são limitadas para descreverem o desejo. O poema é assim:

 

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Perfeitamente compreensível, não é preciso dizer mais. O que não significa que a autora não utilize habilmente a linguagem para dar conta de sua proposta erótico-metalinguística, com vários duplos sentidos. Podemos perceber isso em poemas como “Palma da Língua”:

 

“Deixa-me descobrir tua pele

Com a palma da língua

Removendo dela

Todo segredo

E saborear meu desejo

Até que esteja à míngua

De tanto conhecê-lo

 

Experimento dos relevos

À erosão da alma

Afogo o som das palavras

No paladar do frêmito

Gemidos assonantes

Lambem o curso do tempo

Compelidos à caçada”

 

Em resumo, “Preliminares” é um convite ao livre desejo, misturando a paixão pela arte ao fervor dos amantes insaciáveis, cuja linguagem nos faz brincar com as palavras assim como os corpos fazem instintivamente.

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