segunda-feira, 24 de janeiro de 2022

Tinha uma cobra no meio do caminho

 

“Cuidado que por ali tem cobra”, alertaram. “Você não devia fazer essa trilha sozinha”. Mas ela, aventureira e sem grana pra pagar um guia, resolveu se arriscar. Já estava acostumada a caminhar sozinha pela floresta. Tinha seu kit de sobrevivência e não haveria perigo. Os animais selvagens estavam embrenhados pela mata, por onde não passaria. Tudo certo, então.

Era sábado e fazia tempo bom. O sol reavivava as cores da natureza. Como era gostoso estar perto do verde! Carla pegou sua mochila, vestiu sua bermuda e camiseta, seu tênis, seu chapéu e partiu pra aventura. Pegou um ônibus até a floresta. Chegando lá, começou a trilha. Era um caminho longo, porém fácil porque era reto. Bastava seguir o calçamento de pedras. Após meia hora de marcha, tranquila, apreciando o vento no rosto e o canto dos pássaros, resolveu sentar num toco de árvore pra descansar e beber um pouco de água.

Foi quando a ouviu. Aquele barulho não podia ser o prenúncio de algo bom. Se não estava enganada... Mas não. Não podia ser. Em plena luz do dia? Não. Era uma criatura de hábitos noturnos, ou pelo menos sempre ouvira falar isso. Alguma coisa estava errada. Ou era só sua imaginação. Colocaram tanta cisma nela, que aquela trilha era perigosa, que podia encontrar alguma... Cobra? O barulho do chocalho voltou. Fechou os olhos e torceu pra ser coisa da sua cabeça. No entanto, quando os abriu novamente, ela já estava na sua frente.

Era uma cascavel enorme e peçonhenta. Carla tentou não se mexer. “Se ela não me enxergar como uma ameaça, talvez vá embora”, pensou. Ou talvez não. O pior é que não havia pra onde fugir. Se começasse a correr, a serpente com certeza a perseguiria e atacaria. Por isso achou melhor se fazer de morta.

Olhou nos olhos do animal e viu um abismo. “O abismo olha de volta pra você”, isso não é Nietzsche? Não importa. Não era hora de filosofar. Era hora de rezar. Se ao menos tivesse uma crença em que se apoiar. Mas não acreditava em nada, ou melhor, acreditava na natureza, na lei natural. Só que a natureza não parecia estar a seu favor, nesse momento.


*Leia a continuação do conto na revista Contos de Samsara, disponível online no site https://contosdesamsara.com.br/loja/ols/products/xn-revista-contos-de-samsara-1-ed-8cb-serpente

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