sexta-feira, 11 de outubro de 2024

Little Black

 

Quando eu era criança, tinha uma gatinha chamada Little Black (o nome foi sugestão de mamãe). Ela não morava comigo: vivia no sítio dos meus avós.

Little Black era uma gatinha de rua que acabamos adotando informalmente. No início, era desconfiada e não se aproximava muito de nós. Com o tempo, foi se domesticando e se apegou principalmente a mim.

Lembro que ela deitava a cabeça no meu pé e jogava o corpo pro lado num baque. Eu amava esse gesto porque era sinal de confiança e carinho. No sítio, tínhamos um cachorro vira-lata com pastor alemão. Ele a perseguia e eu morria de medo que a pegasse, mas ela sempre escapava.

Eu não brincava com esse cachorro porque ele havia matado um coelho anos antes. Nunca mais falei com ele, só no final de sua vida. Já com a Little, eu fazia confidências. Ela me olhava com seus olhinhos pretos e parecia entender. Me consolava roçando o pelo nas minhas pernas.

Little foi ficando bonita e bem cuidada. Ela chegou a ter filhotes, porém só um deles vingou. Nós o chamamos de Garfield porque ele era laranjinha. Um dia, meus avós resolveram vender o sítio. Little ficou lá, apesar dos meus protestos. Mamãe não queria bicho num apartamento pequeno, e meus avós, que tinham quintal, não quiseram trazê-la. Nunca mais a vi. Nunca mais tive bichinho. Meus pais disseram que ela ficaria bem, saberia se virar porque era “gata do mato”. Eu também sou uma gata do mato.

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