segunda-feira, 2 de setembro de 2024

Colorir a vida

Eu estava dando uma aula numa turma de pré-adolescentes e anotei alguma coisa no quadro inteligente. Uma aluna se aproximou de mim e questionou: “Por que você só usa o preto? Tem um monte de cor e você só usa o preto”. Imediatamente, mudei a cor para azul.

Quando eu comecei a dar aula, adorava escrever no quadro (que nem era inteligente, na época) com canetas coloridas. Cada uma tinha uma função. Antes de me tornar professora, ainda criança, tinha uma coleção de canetas coloridas.

Fico pensando quando é que deixamos de colorir a vida. Em que momento fica tudo formatado, Times New Roman tamanho 12, espaço entre linhas 1,5, referências de acordo com a ABNT.

Fim de semana passado, fui a um evento literário com alguns amigos na Acaso Cultural: do que eu falo quando falo de poesia. Perguntei aos dois poetas palestrantes como manter o contato com a poesia e não ser engolido pelas obrigações da vida adulta. Uma das respostas foi: “Bem, eu não sei qual é a sua profissão, mas, se você é advogada, por exemplo, você pode imprimir duas vezes uma petição: uma pra entregar e a outra pra tentar criar um texto artístico com as palavras”. Fiquei com vergonha de dizer que eu era poeta. “Eu sou poeta e não aprendi a amar”. Poeta sem poesia ainda conta?

A vida não pode ficar preto e branco, como numa televisão antiga. Seja você poeta ou não, todos precisamos de poesia. Ela não está só nos livros. Está num quadro de Van Gogh. Numa tela de cinema. Num mural. Numa petição. Nas pessoas. Dentro de nós. Para as crianças, é natural. Os adultos precisam tomar consciência. Que a gente nunca se perca das nossas verdadeiras cores.

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