sábado, 29 de abril de 2017

Medo da solidão

Tememos a solidão porque não conseguimos lidar com nossos próprios fantasmas. Os outros nos ajudam a espantá-los. Eles nos fazem esquecer. Mas, no fundo, estamos sempre sós com nossos pensamentos. Os outros não passam de ruído. São a trilha sonora do nosso filme em preto e branco. O roteiro, porém, é nosso. Com medo da protagonização, tendemos a atuar como coadjuvantes da própria história. É mais seguro terceirizar as responsabilidades. Então, evitamos a solidão porque não conseguimos lidar com nossos próprios fantasmas, que criamos porque não conseguimos lidar com nós mesmos, em estado puro. No fundo, nunca estamos sós. Não nos permitimos ficar sós. Criamos ilusões para preencher a solidão que nos ronda. Palavras. Imagens. Sons. Vozes. Melodias. Enfeitamos a solidão de viver e, no fim das contas, ela nem parece tão ruim. Para que temer?

domingo, 2 de abril de 2017

Escolha

Vida adulta é escolha. O tempo todo. Das mais fáceis às mais difíceis. Quente ou frio, carne ou massa, calça ou bermuda, humanas ou exatas, namoro ou amizade, família ou carreira, dormir ou produzir, continuar ou desistir, para lá ou para cá. Escolha. Porque não tem mais ninguém para escolher por você. Porque não tem mais ninguém para assumir as consequências por você. Vida adulta é escolha. E solidão. Porque os outros estão muito ocupados fazendo suas próprias escolhas. Então escolha, aqui, agora, sozinho, rápido. Escolha. E, se você se arrepender, escolha de novo. E, se tudo der certo, escolha de novo. E de novo. E de novo. Até não restar mais escolha. Até a vida te impor o fim. A não ser que você escolha antecipar. A não ser que você escolha pagar para ver. Escolha. Escolha. Escolha.