Perdão
Pois não consigo
Te perdoar
Preciso dizer que me amo. Mesmo nos dias ruins. Mesmo de máscara de
argila na cara, de pijama largada na cama, o cabelo bagunçado, a unha por
fazer. Me amo preguiçosa, manhosa, birrenta, insuportável. Me amo em todas as
circunstâncias. Nunca vou desistir de mim. Me amo e me aceito como sou. Tenho
orgulho de quem me tornei, das minhas metamorfoses diárias. Sei que posso me
aperfeiçoar, mas dentro dos meus limites e no meu próprio ritmo, naturalmente.
Aceito os meus silêncios, os meus gritos surdos, as minhas manias. Guardo os
meus segredos. Recebo as críticas construtivas, descarto as destrutivas. Eu me
amo infinita, verdadeira e eternamente. E quem não me ama de volta não tem
espaço no meu coração.
Sou uma mulher que não quer ter
filhos e levanto muito essa bandeira. Agora estou lendo Você tem filhos?
Como as mulheres vivem quando a resposta é não, da Kate Kaufmann, um achado
da Bienal. Ela fala sobre mulheres que não quiseram ou não puderam ter filhos, seja
pelas razões que forem, sua relação com companheiros, amigas mães, e as crianças
presentes em suas vidas.
Lembro de uma festinha de aniversário
do salão que eu frequento, onde tive a oportunidade de conversar com outras
mulheres, inclusive mais velhas, que não tinham filhos e estavam muito bem,
obrigada. É raro encontrar um grupo assim, porém cada vez menos raro.
“Mas por que você não quer ter
filhos?”, viria algum mala perguntar. O problema dessa pergunta é que ela nunca
é feita a uma mulher que quer ser mãe. “Mas você tem certeza de que quer
colocar uma criança nesse mundo violento e perigoso?” ou “Não acha que está
projetando os seus desejos nessa criança, não seria egoísmo da sua parte?” são
perguntas absurdas. Igualmente absurdo é questionar as razões de uma mulher que
não deseja ser mãe. Ela é sempre julgada como egoísta, encalhada, e por aí vai.
Se você tem filhos e está feliz com
isso, ótimo. Mas se você não tem e está da mesma forma feliz, ótimo também. O
mundo já está superpopuloso e não precisa de mim para procriar. Já chegaram ao
ponto de me dizer que, por ser filha única, não vou perpetuar o nome da minha
família. Tantos problemas no mundo e vou me preocupar logo com isso, que não
faz diferença nenhuma pra ninguém.
Mulheres sem filhos não são
egoístas, não odeiam crianças e não estão agindo contra a natureza. A única
coisa que queremos é respeito em nossa decisão. Respeito é sempre fundamental, e
você nem precisa entender as razões do outro para isso.