Essa
semana, ouvi duas frases sobre dor e sofrimento que me fizeram refletir. E não
foi em contexto de terapia nem em página motivacional, foi no dia a dia mesmo,
na mais completa banalidade da vida cotidiana, de onde extraímos preciosas
pérolas, se prestarmos atenção.
Pois
bem, a primeira foi na podóloga. Ela estava desencravando uma unha inflamada –
dói, né, você deve saber. E eu não dava um pio! Ficava ali, impassível,
apertando a borda do encosto e fazendo só um pouco de careta. Levei bronca. “Tá
doendo?”. “Tá”. “E você não fala nada? Vai sofrer calada?”. Menina, esse corte
foi mais profundo que o que ela fez na carninha do dedão! Ela explicou,
inclusive, que precisava que eu sinalizasse quando doesse pra saber onde a unha
estava espetando e poder tirar. Faz sentido, não é? A gente precisa saber onde
dói pra eliminar o fator que incomoda. Mas quantas vezes não sofremos caladas,
deixando doer mais e mais, sem resolver o problema? É, rapaz, durma com essa
agora!
E
ainda tem outra: dias depois, na aula de dança, eu estava tentando aprender a
girar o bastão – movimento novo normalmente é motivo de sofrência. Quase
consegui fazer, mas doeu a mão. Como já tinha aprendido com a podóloga, dessa
vez me manifestei: “Ai, isso dói!”. A professora concordou: “Dói, é assim
mesmo! Vai ficar fugindo da dor?”. Outra paulada. Que semana sofrida! Porém, de
grandes ensinamentos.
Em resumo: não devemos esconder a
dor, mas também não pode fugir dela. Às vezes vai doer mesmo e isso também nos
faz crescer. Ninguém vive numa redoma, protegido dos perigos do mundo. Isso não
quer dizer que devemos aceitar em silêncio todo sofrimento, como mártires.
Sinalize os seus limites, elimine o que incomoda e aprenda o que puder com
isso. De nada por essa filosofia de botequim. Depois me conta como você
responderia a essas perguntas: “Vai sofrer calada/o?” e “Vai ficar fugindo da
dor?”. E aí? Já pensou?
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