Quando eu era criança, tinha uma grande amiga com
quem adorava brincar. Ela parecia gostar de mim e nos divertíamos juntas, porém
constantemente acontecia algo muito chato: quando chegavam outras crianças, ela
me deixava de lado pra brincar com elas. E isso me magoava muito. Esse
sentimento se repetiu com outras amizades e amores: a sensação de estar sempre
fornecendo mais, muito mais do que recebia. A ponto de me perguntar: por que as
pessoas fazem isso? Por que nos abandonam e nos esquecem, quando temos tanto a
oferecer? Não parece justo, certo? Mas a melhor pergunta a se fazer não é por
que os outros agem desse jeito, e sim: por que nós aceitamos? Hoje acho que
consigo também responder: por medo. Tememos perder a pessoa, como se fôssemos
perder uma parte de nós, como se o afeto que nutrimos só fizesse sentido a
partir da existência do amigo, namorado, etc. E vou além: eles também vão
embora e fingem nos esquecer por medo. Medo de perder a própria identidade na
fusão com o outro. Então, se não tomarmos cuidado, todas as nossas relações
serão pautadas no medo. Se domina o medo, não há entrega. E, sem entrega, o
amor não se manifesta.
Eu sei, é muito difícil saber a medida certa entre
o amor próprio e o amor ao próximo. Às vezes parece que cedemos demais, outras
vezes não queremos abrir mão de nada. O certo é que quanto mais nos cuidamos e
nos conhecemos, mais conseguimos cuidar e conhecer quem nos cerca, identificar
os laços valiosos e nutrir afetos saudáveis. Não tem receita de bolo, é o
trabalho de toda uma vida mesmo. Essa prática requer auto-observação, paciência
e abertura a novos aprendizados. Ninguém nasce pronto. E nem morre pronto, eu
ousaria dizer. Estamos sempre no caminho. Sempre. Aproveite a jornada.
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