sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

Sobre as nossas limitações

 

Há tempos, penso em voltar pra vida acadêmica e finalmente fazer o Doutorado, porque a minha pausa depois do Mestrado acabou se tornando abissal (palavra bonita essa, né, devia usar mais). Teria que abrir mão de algumas coisas, outras atividades que arranjei e grande parte do meu tempo livre, talvez trabalhar menos, tudo isso pra dar conta de uma rotina de estudos mais pesada, já que perdi o hábito. Porém, como alguns amigos me dizem, é provável que eu não demore tanto pra pegar o ritmo de novo. É como andar de bicicleta. Exceto que, bem, não sei andar de bicicleta. Mas, gente, quem não sabe andar de bicicleta? Oi, prazer. Depois descobri várias outras pessoas que, assim como eu, não tinham espaço pra praticar ou acabaram ficando com preguiça de tirar as rodinhas. O tempo passou e nunca aprendemos. Acontece. A partir disso, comecei a pensar em todas as coisas banais que não sei fazer.

Não sei dirigir. Nunca quis tirar a carteira: é caro, demorado, polui. Meu pai dirige e nunca se importou de me dar carona pros lugares. Fora essa facilidade, sempre peguei ônibus, metrô e Uber. Pra que ter carro? Também não sei cozinhar – nível: não sei nem fritar um ovo e já consegui queimar pipoca de micro-ondas (é verdade esse bilete). E até quero aprender, mas vivo adiando. Deus abençoe o delivery! E a comida congelada. Eu não sei abrir potes de vidro. Na verdade, nem precisa ser de vidro. Sou péssima pra abrir embalagens com tampa. Já tive dificuldades até com enxaguante bucal. Até com garrafa de água. Juro. “Não é força, é jeito!”. No seu c...

Não sei tocar um instrumento. Tocava flauta doce na escola, mas não progredi. Tenho vontade de aprender, mas poderia ficar sobrecarregada de atividades. Não sei ser falsa. Até sei ser cínica, mas falsa não consigo. Nem sei mentir bem. Não sei viver sem paixão. Sem arte. Sem literatura. Tá vendo? É a partir da consciência das nossas limitações que chegamos ao essencial. E você, o que não sabe fazer? Faça a lista até chegar àquilo que não pode faltar.

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