terça-feira, 2 de junho de 2020

Sobre Gaiolas e Voos

O amor não pode ser gaiola. Não sobrevive em cativeiro. Sua natureza é ser livre e voar. Aprisionado, definha e morre. E não importa o quão tentador seja criar ou aceitar essa gaiola. O espaço pode ser arejado, bem decorado, colorido, confortável. A gaiola pode ser de ouro. A porta pode até estar aberta. Continua sendo gaiola. A melhor das intenções muitas vezes não basta e esconde pequenas perversidades tão perigosas que sequer nos julgávamos capazes de cometer.

Quantas vezes não tentamos aprisionar o amor? Por medo, insegurança, egoísmo, sentimentos tão mesquinhos que nos dão a falsa sensação de controle e nos impedem de nos entregar plenamente às relações? Quantas vezes não matamos o amor antes mesmo de ele germinar? Sufocamos o outro com nossas expectativas e projeções, repetimos padrões de comportamentos nocivos sem perceber, sofremos e nos culpamos sem necessidade. Nos fechamos na nossa gaiola imaginária, pra onde queremos trazer o outro também. Ou ainda circulamos pela gaiola do outro. Mas dá no mesmo.

É preciso abolir as gaiolas. Encarar a luz, o ar puro, a natureza selvagem e indomável do nosso coração. Não é fácil. É um processo doloroso e demorado, com altos e baixos, perdas e ganhos, erros e acertos, mas, sobretudo, muito aprendizado. Abraçamos a nossa humanidade, acolhemos as nossas dores e abrimos espaço para, finalmente, dar e receber não o amor que idealizamos, mas todo amor possível.

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