Se apaixonar é uma experiência de quase morte
Petite mort
Um ato suicida
Suicidaire
Quanto mais parece castigo
Chagrin éternel
Mais a gente quer
Mon amour, mon amour
Se apaixonar é uma experiência de quase morte
Petite mort
Um ato suicida
Suicidaire
Quanto mais parece castigo
Chagrin éternel
Mais a gente quer
Mon amour, mon amour
Quando eu estava no pré-vestibular, um professor
inspirador pediu que alguns alunos escolhessem uma palavra, qualquer palavra,
para improvisarmos um poema. Ele tecia comentários sobre cada escolha. Uma
palavra, qualquer palavra. O que vier à sua mente. Na minha vez, eu disse:
“vida”. Ele me olhou, num misto de fascínio e preocupação. “Vida é uma palavra
perigosa”. E explicou que ela continha todos os polos positivos e negativos
possíveis. Uma palavra perigosa. Uma palavra poderosa. O nascimento, a criação,
a evolução, a morte. A transformação.
(Dançando na Varanda - Nicole Ayres)
Quando eu era criança, tinha uma gatinha chamada Little Black (o nome foi
sugestão de mamãe). Ela não morava comigo: vivia no sítio dos meus avós.
Little Black era uma gatinha de rua que acabamos adotando informalmente.
No início, era desconfiada e não se aproximava muito de nós. Com o tempo, foi
se domesticando e se apegou principalmente a mim.
Lembro que ela deitava a cabeça no meu pé e jogava o corpo pro lado num
baque. Eu amava esse gesto porque era sinal de confiança e carinho. No sítio,
tínhamos um cachorro vira-lata com pastor alemão. Ele a perseguia e eu morria
de medo que a pegasse, mas ela sempre escapava.
Eu não brincava com esse cachorro porque ele havia matado um coelho anos
antes. Nunca mais falei com ele, só no final de sua vida. Já com a Little, eu
fazia confidências. Ela me olhava com seus olhinhos pretos e parecia entender.
Me consolava roçando o pelo nas minhas pernas.
Little foi ficando bonita e bem cuidada. Ela chegou a ter filhotes, porém
só um deles vingou. Nós o chamamos de Garfield porque ele era laranjinha. Um
dia, meus avós resolveram vender o sítio. Little ficou lá, apesar dos meus
protestos. Mamãe não queria bicho num apartamento pequeno, e meus avós, que
tinham quintal, não quiseram trazê-la. Nunca mais a vi. Nunca mais tive
bichinho. Meus pais disseram que ela ficaria bem, saberia se virar porque era
“gata do mato”. Eu também sou uma gata do mato.