No filme francês “Eu não sou um homem fácil”,
imaginamos um mundo em que os papéis de gênero estão invertidos. Assim, as
mulheres se encontram em posição de poder e ganham maiores salários, têm maior
liberdade sexual e assediam os homens na rua. Estes ficam em casa cuidando dos
filhos, da casa, das necessidades das esposas e, se sobra tempo, também investem
em suas carreiras. Isso quando não se prostituem ou dançam seminus em boates.
Tá rindo? Eu também, afinal, é uma comédia. Mas por que a gente ri desse tipo
de situação? Porque é ridículo. Irreal. Absurdo. E a sociedade, como está?
Dizem
que a melhor forma de identificar um preconceito é tentar inverter a situação:
e se fosse um homem? Uma pessoa branca? Hétero? Você diria a mesma coisa? Faria
os mesmos comentários? Julgaria com o mesmo peso? Imagina só: “Aquele cara é
esquisito, ele só gosta de cerveja, futebol... Sei não, mas meu heterodar tá
apitando!”. Ou ainda: “Mas você é mulher e quer ter filhos? Já pensou na despesa,
no trabalho que vai dar?”. Não são coisas que normalmente ouvimos por aí,
certo?
Eu e
minhas amigas bem que buscamos nossa pequena vingança ao objetificar homens ou
fazer comentários do tipo: “Que estressado, deve ser a andropausa precoce!” e “Relaxa, ele
é homem, a falta de noção vem no pacote”. Aliás, vingança não. Justiça
histórica, só isso. Mas, claro, sabemos que não adiantaria nada simplesmente
inverter os papéis, como nos mostra o filme que citei, ou exercer uma falsa
militância que só visa a autopromoção (alô, BBB!). Porém, isso nos faz
refletir... O quão longe ainda estamos de alcançar uma sociedade mais integrada
e democrática, já que discursos de ódio se disseminam por todos os lados. Mesmo
assim, parece que já é menos distante do que antes. Gosto de ser uma realista esperançosa,
como nos propõe Ariano Suassuna. E adoro o riso crítico, ele é catártico e
transformador.
P.S.: Juro que não tenho nada contra homens brancos
heterossexuais. Até tenho amigos que são.
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