sexta-feira, 18 de setembro de 2020

Sorte em miniatura

Agora há pouco pousou um bichinho minúsculo no meu dedo. Olhei pra ele com espanto e curiosidade. Era verde, tinha dois pontinhos pretos como olhos e parecia um grilo em miniatura ou coisa do tipo. Fui pesquisar, descobri que o chamam de "cigarrinha verde". Fiquei reparando, achei o bicho muito engraçado e até passei a simpatizar com ele, coração mole que tenho. Se é verde, deve ser sinal de sorte, não é mesmo? Tão pequeno e delicado que eu poderia não ter notado - como a própria sorte. Nem sempre tenho esse bom humor todo ao receber os insetinhos. Às vezes me irrito e os esmago sem hesitar, descontando nos pobrezinhos o estresse do dia - vai ver é essa a missão deles na Terra. Às vezes mato um sem querer e me encho de culpa - foi mal, Mãe Natureza, não precisa aumentar meu carma, por favor. Mas às vezes interajo com eles, criatura estranha que sou também. E fico pensando em miudezas, daquelas que dão um sentido especial a qualquer bobagem importante demais pra ser ignorada. Vai ver é o tédio da quarentena, certa carência repentina ou solidão patética - o próximo que aparecer vou apelidar de Wilson; é melhor que bola de vôlei, vai. Ou pode ser só eu sendo eu, tentando dar significado aos insignificantes. Vai ver essa é a minha missão na Terra. Ou só uma forma de passar o tempo. É mais legal pensar que a sorte em miniatura pousou no meu dedo agora do que dizer que uma cigarrinha verde entrou pela janela, atraída pela luz e pela mudança de tempo. Mudança de tempo. Taí outra boa metáfora! Sério, eu devia ir dormir. Mas ele voltou, o etzinho...

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